segunda-feira, 7 de março de 2011

Desabafo de um recaído.


Diante de tudo quanto foi dito a respeito do meu relato sobre como ingressei no território amargo do crack,  tenho que acrescentar alguns dados extras, visto que, para muita gente, não ficou muito claro alguns pontos do meu relato

Minha relação conjugal teve altos e baixos. Abandonos de lar, pela esposa, foram mais de vinte. Geralmente antes do São João e antes do Natal ela criava clima para uma briga e depois, como se fosse vítima, viajava. Essas brigas sempre foram criadas de modo artificial.

Brigas todos os casais têm e, quando há uma insatisfação,  de uma das partes, melhor que mentir, fingir, trair e ter que levar a vida mediante subterfugios,  é buscar a via respeitosa que é assegurada pela lei, que confere o direito de separação a qualquer pessoa que assim deseje. É muito mais decente, assim proceder, do que ter que viver negando, mentindo, enrrolando  todo mundo, inclusive os filhos, que são muito bobos para compreenderem essas maquinações. Todas as vezes em que ela abandonou o lar eu tinha companhia de familiares, filhos, de modo que não me era dado espaço para pensar bobagens, nem espaço para que eu me perdesse dentro dos labirintos do meu próprio pensamento. Da penúltima vez eu não tinha ninguém. O vazio era absoluto. Foi então que surgiu espaço para o uso de crack, em 2009. 

Foram apenas 6 meses de uso da droga até minha voluntária internação, que não foi medicamentosa, nem psiquiatrica, é bom ressalvar.

Em 2009, ela havia abandonado o lar antes do São João, não sei precisar a data... Voltou quando eu já estava fazendo uso do crack e, ela, levou algum tempo até descobrir. Levou apenas uns tres meses sem sossego, até que decidi me internar. O lapso de tempo em que tudo aconteceu foi curto demais. O drama de muitas famílias dura anos e anos, o meu drama com ela foi curto demais, para analises superficiais e do tipo "coitadinha" + "aguentou tanto" + "foi tolerante" e etc.

Vai completar um ano que sai da clínica, após o carnaval, no vindouro dia 14. Ao sair a esposa, alegou que eu não mais deveria voltar ao lar,  minha residência, pois haveria o risco de recaida devido a proximidade de uma favela de sem tetos. Era uma modalidade de FUGA GEOGRÁFICA, como se cidade inteira não estivesse infestada pelo tráfico do crack. Aceitei o sofisma e fui morar com meus pais, longevos e solitários. 

Sai da clínica em estado de abstinência. Estamos vivendo cerca de um ano separados. Ela em um canto, eu no outro. Ela, com seus argumentos foi bastante convincente junto aos meus familiares de que era melhor assim. O chato é que me trataram como se eu fosse um idiota, um demente, um imbecil. De "manipulador" passei a ser "manipulado". Todos se beneficiam com a minha estadia em casa de meus pais.

Enquanto codependente a esposa não pode alegar sofrimento, sacrificio, ou outra coisa qualquer pois vivemos distantes um do outro, por vontade dela. É bom frisar isto. Então ela não tem como dizer que teve que me suportar, aturar, ou aguentar qualquer tipo de mazela minha, vez que estamos separados por imposição dela.

Minha recaída era inevitável e até previsível, diante do quadro em que me colocaram. Comecei a me frustrar ao ver que em meu redor estava convivendo em um mundo de conveniências, onde eu, sequer era visto como um ser humano que tem desejos e que precisava ser, ao menos, tratado como um presidiário é tratado: com direito de receber a visita da mulher e ter um momento dedicado ao prazer sexual. 

Que história mais esquisita esta em que entrei!!! tão absurda quanto o uso do crack.

O sofisma foi me indignando e, aqui perto donde resido, atualmente, tem inúmeras bocas e não deu outra: busquei usar o crack, novamente,  para mostrar que a tese que defendiam era infundada, que todos estavam errados. Na verdade não era a fuga geográfica a razão de meu afastamento. Isso ficou claro depois que revelei que a droga é quase onipresente.


Mas o erro continuou sendo meu. Agora o argumento havia mudado. Reconheço que errei, mas estava insuportável viver diante de tantos sofismas, que só serviam a interesses e conveniências pessoais, de familiares e, particularmente, da esposa e filhos. Passei a me considerar um estorvo. Um ser rejeitado e manietado por todos, sem direitos, sem vida. O resultado é que o meu cerebro ficou dolorido demais para suportar sofismas, farsas, e o tratamento de vida que me dispensavam, típico de um cachorrinho de estimação. 


Adoro meus pais e faço por eles o que posso, mas passei a não ter vida própria. Deixei de ser gente de carne e osso, sem direito a fazer o que qualquer ser humano normal faz. Sem amigos e sem mais nada. Tudo o que fazia era um drama. Contatos telefônicos deveriam ser checados. Chegaram ao absurdo de imaginarem que estava, em minha primeira recaída, usando crack com uma tia. 

Dos filhos, apenas um convivia comigo, na época em que passei a usar o crack. Mas, este filho era muito ausente da residência pois vivia como cigano. Até hoje vive dessa maneira.


Após o tratamento, fui a minha residência muito pouco, apenas como visitante acompanhado. Minha liberdade, onde vivo, foi cerceada e passei a viver como se fosse um condenado a prisão domiciliar, repito.


Essa história é uma sucessão de absurdos que meus codependentes estabeleceram. 


Preso, infelizmente é como me sinto - limitado em alguns poucos metros quadrados, de um apartamento pequeno (alugado às pressas, para alojarem meus pais), contando apenas com um computador e sem liberdade alguma, assim fui vivendo até que um dia reagi da pior forma possivel, talvez como uma modalidade burra de vingança e tornei a utilizar o crack, uma droga que não me faz falta, mas que insisto em usar como se ela fosse uma arma de agressão, que me torne visivel, sem me importar como me vejam. 


Sou muito mais um usuário que um viciado, devo esclarecer. 


Tive 5 recaidas, após  de 6 meses de sucesso e total abstinência.

Nem filhos, nem esposa podem dizer que tiveram que me aguentar. Não mais convivia com eles. Quando recai, todos acusavam meu pai de ser o responsável pelas minhas recaídas, mas, na verdade, o responsável sou eu mesmo. 

Sabe, a cabeça de um codependente, não tratado, é uma cabeça muito louca demais. São egoistas. Não aceitam que são codependentes. São impositivos, como se fossem tiranos. Na verdade são uma droga de carne e osso. Eu é que tenho que aguentar eles. Eles podem se queixar de mim do modo que bem entenderem. Não penso em me destruir. E eles estão me destruindo ao me anularem como ser humano, como um ser que tinha um lar, ainda que desestruturado. Mas eu tinha o direito de tentar reconstruí-lo e hoje tudo se encontra destruido, consciente, ou inconscientemente, por irmãos, mulher e filhos. 


Hoje sinto-me como um recluso, mas aqui deixo o alerta de que vai chegar o dia do basta e vou me preparar para este dia, com calma, de modo a não ter que ficar na dependência de ninguém.


Meu último celular foi subtraido dentro do apartamento, como uma forma de me manter  incomunicável. Os demais que tive, todos foram furtados e poucos perdidos. Bem, meus pais possuem telefone fixo e móvel. Portanto a minha incomunicabilidade é meio sacana. Me tiraram o celular pelo agrado de me desagradar. Como uma punição tola de codependentes adoentados e que não enxergam a loucura que praticam comigo sob o argumento da proteção. Estão me fodendo a cabeça, que resiste a eles e a outras drogas similares, como o crack.

Voltando à mulher que está  há mais de um ano separada de mim, por vontade própria, visto que o sofisma, o argumento falacioso, foi desmistificado, de que voltaria a usar drogas em minha residência. Quando um camarada quer usar ele usa e não importa o lugar. Apenas creio que só o amor evita estes atos de insanidade. Ainda assim, me separaram e a culpa maior disso reside na mulher, que quer viver numa boa. Ora, eu sei que meu caminho é solicitar a separação.  Ela tornou-se cínica. Mas a mim não engana. Olho prá ela como uma droga mais devastadora que o crack.

                                      Voltando ao Passado
O lapso de tempo que a mulher teve que "me suportar" foi muito curto, cerca de tres meses no máximo, vez que, ao retornar ao lar que abandonou, levou um espaço de meses até que ficasse sabendo da minha real condição. 


Sei que nestes últimos tempos ela, tornou-se mais feroz e agressiva do que já era, antes. Tornou-se desbocada e caiu na vulgaridade mais chula que se possa imaginar. Fazia escandâlos nas ruas, me rasgava roupas, me atirava objetos, me agredia, sem que eu reagisse e, ainda assim, por muitas vezes, dizia a ela, que estava certa e eu estava errado. 


Após me internar não mais voltamos a viver juntos, de modo que ela não pode arguir nada contra mim e, ainda assim, voltou a fugir e regressou em pleno carnaval. Só mesmo filho para botar fé nela! 

Voltou ao lar na quarta feira deste carnaval e, neste dia, voltei a recair, como se esta recaida fosse uma maneira inconsciente de protestar, pois não mais desejava o regresso dela. 

Durante o período em que esteve fora, sequer um telefonema me deu. Foi totalmente desprezivel e ninguém sabe de que maneira ela viveu, como viveu e como buscou satisfazer suas necessidades fisiológicas.


Minha relação com ela é impossivel agora. Já era ruim antes, agora ficou pior, pra mim, mesmo vivendo separado. Essa minha situação agrada muita gente, bem sei. Pois me isolo cada vez mais neste jogo de conveniências.

Em minhas análises e avaliações descobri que a minha doença é a esposa. Ela é o meu mal. O que me invade vem dela, de tudo quanto ela me causou de ruim, das minhas péssimas lembranças e recordações, da agressividade dela, de fatos desabonadores. 


Quando ela me abandonou e me deixou na mais profunda solidão eu transferi a dependência que tinha por ela por um instinto destrutrivo que me fez buscar a droga mortifera, chamada crack. Reconheço que meu amor por ela era doentio. Já devia ter largado a mesma faz muitos anos...

Busco reconstruir minha vida com sobriedade. Quero uma outra mulher, não mais esta que se apresenta como sendo minha esposa e que, sequer, usa aliança. Quem vai acreditar na fidelidade dela ? eu?! Não, não e não! Chega um momento em que temos que encarar a realidade e acordar para ela e encara-la de frente. Esta mulher não me serve, é a causa de todos os meus males. 

Certamente ela possui um vicio que as repetidas fugas e abandonos do lar evidenciam. Em respeito aos filhos, prefiro silenciar. Ela, definitivamente, não me serve pra mim, como mulher. Na verdade nunca foi uma mulher de verdade e, se a aguentei tantos anos, foi em nome do amor, que é um "estar-se preso por vontade", mesmo. Até que retiramos as vendas dos olhos e abrimos a mente para que a verdade chegue à consciência e nos permita formar um ente de razão.

P.S.: amo meus pais !

3 comentários :

  1. Caro amigo,

    Perdão em comentar seu desabafo. Hesitei, mas preferi não ser um omisso diante de tão grave perturbação que sua mulher lhe causou. O amor, conforme o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos
    (2003, p. 185) explica que o amor é um sentimento arrebatador, que enche nosso coração de encanto e admiração [...], que invade a razão e despreza seus alertas, que nos cega, nos ensurdece, nos contamina por inteiro, que torna tudo mais bonito e mais suportável [...].
    Você é um codependente do amor em relação a sua mulher. Agora sua mulher, em função da droga, tornou-se sua codependente. Ambos doentes, portanto !
    Ambos necessitando de uma terapia especializada.
    Pelo que escreveu, há uma suspeita de que sua mulher não lhe é fiel. Se verdade for, melhor separar-se,aceitar a perda e buscar um novo relacionamento, o que não é impossivel.
    Não busque jamais vingar-se. Sua mulher, se for infiel, mesmo, tem a própria honra maculada. Não é necessário vingar-se de nada, nem buscar auto destruir-se.
    Pelo seu relato Há 99% de chance dela ser mesmo infiel. Trate urgentemente da sua separação.
    Se ela é fonte do seu mal, porque conserva-la como esposa?
    Acabou e pronto.Deixe que ela viva da própria infidelidade, convivendo com as pessoas
    com quem se relacionou. Se voltou para você é porque ninguém a quis como mulher, serviu apenas para matar a fome de outras pessoas e nada mais que isso. A sina dela será triste,
    acredite. Sinto que ela irremediavelmente vai perceber o seu erro, na solidão. Não alimente ilusão no seu coração fragilizado, tanto quanto a mente. Liberte-se,é o que tenho a lhe dizer. Você vai melhorar, bastante, enquanto ela, vai começar a sofrer pelos erros cometidos. É a vida. Siga seu caminho e trate de esqueçe-la. É só o que posso lhe dizer. No mais, trate de buscar fazer uma terapia e verá que ela é um nada, um zero à esquerda que você, na sua doença,hipervalorizou, de modo doentio.
    Forte abraço!
    J.R.

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  2. Bom dia companheiro, li sua partilha, sei que vc nem deve estar querendo retorno, mas assim... Eu e meu marido estamos nesta luta desde 2008 (qdo buscamos ajuda), os perfis sempre se modificando, um dia minha co-dep estava forte, no outro a adicção do meu marido, hj um dia de cada vez vivemos melhor. Se vocÊ aceitar minha sugestão... Procure uma sala, sei padrinho ou um companheiro... Olhar demais a doença do outro nos afasta da recuperação da nossa propria doença.
    Paz e Serenidade

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  3. "Louvando o que bem merece, deixe o que é ruim de lado". SPH

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soporhoje10@gmail.com

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