domingo, 10 de abril de 2011

Considerando as considerações

“Receber uma carta é a maior das alegrias! Parece que as cartas que recebo dos meus amigos isolados estão sempre perfeitamente sincronizadas. Lembram‐me que alguém bem longe começa a conhecer‐me e se preocupa o suficiente para me escrever. Eu importo na recuperação de alguém e outros são importantes na minha.”

Ontem postamos algo referente a conselhos sobre procedimentos considerados adequados e/ou inadequados para os familiares dos adictos, que também são portadores da mesma doença.
Algumas pessoas fizeram colocações e uma delas deixou transparecer a idéia do abandono do adicto: algo tipo "que ele se foda" ! ou a famosa frase do desdém pela vida do próximo: "VIVA E DEIXE MORRER".
Lidar com o sofrimento alheio e os correspondentes sentimentos não é uma tarefa fácil que possa ser contida em uma única formulação. Quando o tema não corresponde a uma simples equação matemática e envolve questões que transcendem o campo da exatidão, tudo fica mais complicado.
Não vejo razão para alguém que se revelou de modo tão "heróico" que "aguentou" e "suportou" tantas coisas de um adicto na ativa, sem melo-dramas, de repente voltar as costas ao mesmo face uma simples recaída, o que é previsto por todos. O sujeito recaí. Muitos procedem como naquela canção que diz algo tipo: " um homem de moral, não fica no chão, nem quer que mulher venha lhe dar a mão. Reconhece a queda e não desânima, levanta sacode a poeira e dá volta por cima". Esses são os típicos "machistas", cheios de orgulho. Não sei até que ponto eles parecem estar certo de não esperar ajuda e de ter a força moral necessária para levantar sozinho, sacudir a poeira e dar a volta por cima, pois vejo os viciados tão fragilizados e debilitados que faz dó. Será que quando alguém está no fundo do poço pensa dessa maneira, ou acaba fazendo bobagens em nome do orgulho e da vaidade? Sozinho ninguém consegue, não é mesmo? é preciso que alguém ajude se eu permitir e a maioria permite!
Odiar alguém, simplesmente porque este alguém existe, por não se sentir responsável pelo ente querido, me parece que não soa bem com o que é descrito pela literatura do NA e NAR-ANON, mas não sou um especialista em aconselhamentos e basta querer para ligar o botão do "foda-se" sozinho. Isso é muito comum quando o barco começa a afundar. Também envolve questões mais sérias que dizem respeito a determinados direitos, tipo interdição, pensão em caso de morte... tudo isso é natural quando um co-dependente realmente ama o seu adicto e não o abandona, ou quando assim o faz, procede da maneira mais correta possível que é mediante o "DESLIGAMENTO COM AMOR". Este desligamento não significa maus tratos, abandono, rejeição, recusa, isolamento, pelo contrário, é um desligamento "COM AMOR". Não sei se dá para entender o que a palavra encerra em si mesma. Outro detalhe interessante que observei foi o daqueles que não desistem nunca de ter fé em seu adicto e que, apesar de mais de trinta internações, telefona, diz "alô, como vai?", dá apoio, quando nada, moral; estimula com telefonemas e visitas durante o período de internação. Estas pessoas, creio, não são movidas por outras ambições que não seja a de ver o adicto em permanente estado de recuperação. São co-dependentes despojados, que sabem o significado do que vem a ser "desligamento com amor", porque o desamor, o desapreço pela vida de outrem, não é nada razoável e muito menos elegante para elogiarmos, considerando a pessoa que abandona, com desdém, com indiferença, com desconsideração, como alguém que padece de um mal maior do que o do próprio adicto. Quando um não quer, dois não brigam. A relação problemática deve ser encarada como tal e, por assim ser, é preciso cultivar sentimentos benignos e não se permitir levar por nada que não seja, acima de tudo, o amor ao próximo. Hoje vivemos em uma época em que prepondera o desamor, os negócios, as armações, a descrença, a falência de valores outrora tidos como valiosos. Até mesmo as amizades, muitas vezes, não correspondem. Então, ligar o botão do "foda-se", ou o botão do "gêlo", do isolamento é o mesmo que matar alguém aos poucos. Não é à toa que em carceres existe uma determinada cela denominada como "SOLITÁRIA". É incrível conceber que alguém ponha um ser doente em uma "solitária" sem grades. É cruel, é desumano, é desrespeitoso para nossa condição humana e, comportamentos tais, face a tamanha irresponsabilidade, mereciam o justo enquadramento dentro de determinado ordenamento jurídico, pois nos parece que o abandono constitui um ato irresponsável que muitas vezes pode chegar a assemelhar-se a um tipo de tortura semelhante àquela que em presidios aplicam, como "medida corretiva" [ que apenas enlouquece] o isolamento de seres humanos como medida, na verdade, punitiva, ou vingativa. Isto é uma modalidade de tortura psicológica. Hoje em dia é comum verificarmos o abandono de idosos, maus tratos aos idosos e o "foda-se" aos idosos. Odiar alguém simplesmente porque este alguém existe é sintoma grave de doença, como é uma doença desamparar, abandonar, descartar, jogar no lixo, desprezar, ser indiferente... Bem, isso me soa a algum tipo de patologia que não preciso entender, me bastam os sintomas da doença, para verificar quem precisa, realmente, de ajuda. E que Deus seja por todos nós, justo e misericordioso, como sempre. Amem!... e que os anjos digam amém!
SPH

Um comentário :

  1. Há pessoas que se casam, são felizes, mantêm vida em comum para sempre e morrem casados. É uma bênção! O ideal seria que todos os casamentos fossem assim. Mas não são, e o direito precisa fornecer meios para que os casamentos mal-sucedidos sejam desfeitos. Absurdo maior da conta seria obrigar pessoas que se odeiam, que não se suportam mais, a viver sob o mesmo teto, numa hipocrisia extrema e até perigosa, fingindo que nada de ruim está acontecendo.

    ResponderExcluir

soporhoje10@gmail.com

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...