quarta-feira, 20 de abril de 2011

Dependência emocional é um tipo de patologia emocional e de relacionamentos



A dependência emocional é um tipo de patologia emocional e de relacionamentos, recentemente descrita por estudiosos do comportamento humano nos EUA. È uma experiência comportamental patológica alteradora o estado de humor.

Este designação faz parte do jargão do meio profissional que é incompreensível para as pessoas que se encontram fora desta actividade e incoerente para alguns que trabalham nesta área. Todavia, considero mais importante observarmos o significado desta patologia que afecta milhares de homens e mulheres.

Todos nós, seres humanos, precisamos de criar e desenvolver vários tipos de elos/ligações com os outros. Somos seres gregários. Precisamos de relações amorosas, criar vínculos, laços e de pertença. Contudo, surge um serio problema quando esses vínculos e laços se tornam padrões disfuncionais repetitivos de insatisfação, insegurança, infelicidade e rejeição, de vergonha e culpa, baixa auto estima, isolamento, raiva e ressentimento e dependência.

Isto significa que o amor levado a um extremo poderá conduzir ao sofrimento e desgoverno a que podemos designar de dependência emocional – “o amor é cego”. Por vezes, abusamos da palavra/conceito amor. A nossa cultura/sociedade reforça a crença disfuncional de que devemos procurar a felicidade “mágica” no amor-paixão.

Consideramos perfeitamente natural que a exaltação amorosa seja o tema principal na literatura, no espectáculo, na canção. Somos constantemente bombardeados, através dos media, por promessas de uma relação apaixonada que nos trará satisfação e realização. Para onde quer que olhemos assistimos a telenovelas, programas de televisão, revistas, romances, anúncios que apelam às nossas emoções (à imaginação, ao sonho, á sedução e sensualidade) e às relações perfeitas e fáceis.
Quase que dependemos dos relacionamentos de “sucesso” para conseguimos um propósito e sentido na vida.

O amor apaixonado é aquilo que alguém sente geralmente por um parceiro/a impossível. De facto, é exactamente por ser impossível que existe tanta paixão. Para que exista a paixão, tem de se verificar uma luta continua, têm de existir obstáculos a ultrapassar e um desejo de obter mais do que é oferecido. Literalmente, paixão significa sofrimento, e frequentemente, quanto maior é o sofrimento maior é a paixão. A prioridade e a razão da felicidade gira em torno da conquista, da sedução, do romance, do flirt, do sexo. A intensidade emocional de um caso de amor apaixonado não é comparável ao conforto mais subtil, de uma relacionamento estável e empenhado. Assim se o parceiro/a, finalmente, recebesse por parte do alvo da sua paixão que tão ardentemente desejava, o sofrimento terminaria e a paixão em breve se esfumaria. Nessa altura, provavelmente iria deixar de gostar dessa pessoa, porque a magoa doce-amarga teria desaparecido.

A nossa sociedade prepara-nos para o desafio da vida de nos tornar-mos livres, autónomos e espirituais sem ser a “custa” de outra pessoa/, parceiro/a ou coisas materiais?

A nossa tradição ocidental de amar e de ser amado é na minha perspectiva um conceito ultrapassado e disfuncional que promove a dependência emocional. Vivemos para a posse das coisas (materiais) e de poder sobre os outros. Aprendemos que ser homem é reprimir sentimentos e ser “duro” (macho) as únicas emoções permitidas são a raiva, a excitação e o desejo sexual. Quando o homem se sente embaraçado, inseguro e triste sente-se inadequado e zangado. Ser mulher é agradar, ser submissa, é saber satisfazer e adaptar-se ao parceiro. Por vezes, é a mulher que se preocupa em comunicar e zela pela “saúde” da relação.

Tanto os homens como as mulheres sofrem nas relações amorosas. Como o homem e a mulher são diferentes aprendemos erradamente que as diferenças significam desigualdade, incompatibilidade, competição exacerbada e afastamento.

Os dependentes emocionais são pessoas reactivas. Sobre-reagem ou sub-reagem, mas raramente agem. Reagem aos problemas, sofrimento e comportamentos dos outros. Reagem aos seus próprios problemas, dor e comportamentos. Muitos comportamentos impulsivos são reacções ao stress e à incerteza de viver ou crescer. Não é necessariamente, anormal , mas é heróico e pode salvar a vida saber como não reagir e actuar de formas mais saudáveis e construtivas. Porem a maioria precisa de aprender a fazê-lo.

Na dependência emocional uma das razões pela quais este tipo de problema é uma realidade é ser progressivo, isto é, á medida que as pessoas à nossa volta ficam mais disfuncionais podemos começar a reagir de forma mais intensa. O que começou com uma pequena preocupação pode desencadear isolamento, depressão, doença física e ou emocional e ou fantasias suicidas. Uma coisa conduz á outra e as coisas pioram. Na minha experiência profissional, alguns pacientes referem que quando as coisas não resultam nas relações sentem-se deprimidos, desorientados e confusos. Muitos comportamentos destrutivos e disfuncionais nas relações tornam-se hábitos (padrões), adquirem uma vida-própria. È um sistema característico de pensar, de sentir e de agir em relação a nós próprios e aos outros que gera sofrimento. Reagimos frequentemente ás pessoas que se auto-destroem, aprendendo a autodestruir-nos. Estes hábitos podem conduzir ou mantermo-nos em relações que não funcionam. Estes comportamentos podem sabotar os relacionamentos, que de outro modo podiam funcionar. Impedem-nos de encontrar a paz e a felicidade, com as pessoas mais importantes – nós próprios.

Algumas características de dependência emocional

Viver em função da própria relação. Não restam energias para outros compromissos.

Limites débeis nas fronteiras do ego. (A noção errada de que os dois devem ser um).

Abuso físico e/ou emocional.

Após a perda do amor ficam incapazes de terminar a relação.

Medo de tomar risco saudáveis e resistência exacerbada à mudança. Sente-se ameaçados.

Limitados na evolução/desenvolvimento individual.

A verdadeira intimidade é percepcionada como uma ameaça. Sente-se exposto e vulnerável.

Representação de jogos psicológicos (a relação é um palco de representações) – vitima, salvador e perseguidor.

Falta de espontaneidade na troca de afectos – “Só dou se receber em troca”

Focar-se nos outros e naquilo que eles precisam de mudar.
Depender dos outros para se sentir completo, seguro e equilibrado.

Procurar “milagres” externos para resolver problemas na relação – Ainda acreditam no Pai Natal e/ou na cegonha e o recém nascido?

Desenvolver expectativas irreais (exigências) de receber amor incondicional. “Se eu sofrer por ti, amas-me?”

Assumir uma atitude de auto-controlo e recusa de compromisso na relação. – “È mais confortável rejeitar do que ser rejeitado.”

Depender dos outros quanto à própria auto-afirmação e vigor

Sentimentos de abandono, solidão e extrema insegurança na relação.

Antecipar situações catastróficas e negativas (ansiedade, depressão, excitação, culpa e baixa auto-estima).

Evitar aquilo que tememos, por ex. medo da intimidade.

Esperar que o parceiro/a adivinhe, bem como, seja o responsável pelo bem estar do outro (necessidades, sentimentos, dificuldades)

Comportamentos manipuladores/controle (jogos de poder) de forma a manter a desigualdade na relação. “A melhor defesa é o ataque.”

Segundo Greenberg e Bornstein (1988b) um indivíduo com orientação de personalidade dependente encontra-se em risco para variadas condições psicopatológicas, inclusive depressão, alcoolismo, obesidade e dependência do tabaco.

“As relações são como uma dança, com energia visível a correr de uma parceiro para o outro. Algumas relações são uma dança de morte lenta e obscura.” Colette Dowling

“Não é correndo atras do amor que o encontramos; basta abrir o nosso coração e encontrar-lo-emos dentro de nós “ Charlotte D. Kasl

Como recuperar da dependência emocional

Não existe uma solução mágica para este tipo de patologia. Não existe um medicamento. Acredito que a recuperação seja um processo de avanços e recuos graduais e constantes. Recordo vários casos que acompanho cujas pessoas procuram, de uma forma genuína, viver segundo padrões saudáveis e construtivos todavia longe daquilo que é a “perfeição”.

Aprende-se a desenvolver competências cognitivas (informação/consciência) que aumente a motivação para a mudança/acção com o apoio pessoas significativas/profissionais de confiança. Aprenda a perdoar-se através de caminhos espirituais. È importante centrar-se no positivo e largar a rigidez de pensamento. Conheça e examine honestamente a sua historia pessoal, as crenças e os mitos e os medos.

Faça meditação e oração.

Faça exercício físico

Escreva diários

Pratique leitura sobre o tema

Aprenda a desfrutar de estar na sua própria companhia

Aprecie o contacto com a natureza.

Aprecie e pratique hobbies (pintura, musica, jardinagem, voluntariado, etc.)

Faça afirmações positivas diárias (Eu sou uma pessoa..................)

Envolva-se com pessoas positivas e autenticas.

Frequente grupos de auto-ajuda

“Juntos conseguimos aquilo que sozinhos não fomos capazes”


Referencias:Norwood, Robin “Mulheres que amam demais” Editora sinais de fogo; Beattie, Melody “Vencer a codependência “ Editora sinais de fogo; Scheaffer, Brenda “Será amor ou dependência?” Editora bizâncio ; Carnes, Patrick “Out of the shadows” Hazelden, Pauwels, Louis “Aprendizagem da Serenidade” Verbo


publicado por João Alexandre Rodrigues ...

Um comentário :

  1. Após iniciar meu tratamento, hoje compreendo e reconheço que causei muito mal a meu marido e sei que o tornei um alcoólico devido aos meus deslizes que são provenientes de uma infância amargurada e sofrida. Estou separada e o vejo caindo pelas sarjetas, sem ninguém para ajuda-lo e ele - é assim que me sinto - ele cai nas sarjetas a minha procura, pois eu vivia nas sarjetas da vida leviana, da busca do prazer pelo prazer, sem ter responsabilidade alguma com a nossa aliança conjugal. Estou me redimindo e me reencontrando, mas o mal que causei na alma dele é irreversível e já não posso ajuda-lo e quem poderia eu joguei contra ele. Hoje me resta pedir desculpas a ele e perdão a Deus. Ele era meu co-dependente e não teve força suficiente para se libertar do amor que nutria por mim e eu não sabia nada de co-dependência, nem o que significava adicção. Resta-me fazer esta reparação pública, pois só assim, me sentirei mais aliviada, embora não tenha tanta certeza disto. Hoje sou evangélica e resta-me orar por ele.

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soporhoje10@gmail.com

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