Nada me irrita mais do que a demonização das drogas. Ultimamente, todos  sabidos e ignorantes dizem o que podem e não sabem sobre o crack.  Já vi isto com a maconha e ácido (LSD).  Já li sobre balas distribuídas em portas de escolas, capazes de enlouquecer crianças e adolescentes. Nada disto era verdade. Agora, atribui-se ao crack as mazelas de pobres e menos pobres quando, na verdade, dever-se-ia evidenciar o enfraquecimento de nossos laços sociais e de nossos compromissos, oriundos da reflexão ética e tornados moris, isto é, moral, conduta, orientação a seguir.
Demonizar para esconder nossa incapacidade de enfrentamento da realidade, demonizar para ganhar o apoio fácil de quem prefere não saber para fazer de conta que resolve, pelo sintoma, em lugar de cuidar das causas. As drogas, mesmo o crack, são produtos químicos sem alma: não falam, não pensam e não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes. Por isso, nada me irrita mais do que a demonização enganosa.