terça-feira, 27 de setembro de 2011

De volta à vida, com os pés no chão

A vida, como diria o poeta, a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. Também penso que a vida é como uma onda no mar. s vão, elas vêm. Tem seus altos e baixos, tem seus começos e fins. Viver é um permanente estado de mudanças. Ontem éramos um, hoje somos outro, embora, em essência, permaneçamos idênticos. Somos como a água do rio vista por Heráclito, compreendida por Hegel e aceita por Marx e Engels, sob o ponto de vista dialético. Somos a tese, a antítese e a síntese. Não importa como eu me veja, nem como me vêem, nem como vejo os outros. Somos todos dialéticos, exceto aqueles sujeitos chatos que possuem aquela velha opinião formada sobre tudo. Não que seja de todo mal a opinião cristalizada se não houver outra nova, coerente, renovadora, progressista, evolutiva, que atenda aos ditames de uma civilização realmente humana. A imagem postada acima reflete uma mudança radical de vida, tão  radical quanto parece louca. Sugere porra louquice, não é mesmo. Mas não sou um porra louco. Também não sou um macaco preso numa jaula de zoológico à espera de que venham me dar pipocas aos domingos, contrariando as regras administrativas do zoo. Pois bem, me submeti a uma modalidade de recuperação que não deu certo da primeira vez. Nesta segunda vez também não deu certo. Creio que chegou o momento de perder o medo e sair do casulo, de sair por ai, de ir à praia, de ir a um cinema, teatro, espetáculo, de observar as azarações de um determinado show. Sei que devo evitar o primeiro gole, evitar pessoas hábitos e lugares. Sei um montão de coisas, mas só posso viver um dia de cada vez e corro o risco de errar, de falhar, de um recidiva, pois a recaída já me aconteceu. Não posso viver a vida de outras pessoas, nem outras pessoas podem viver minha vida e eu vinha vivendo uma vida que era, em parte para agradar meus familiares, demonstrando minha determinação em me recuperar e em parte para me preservar do pior que foi ter recaído. Entendo que a vida e o sacrifício que vinha fazendo não era correspondido, era algo quixotesco. Não havia zelo pela minha saúde, mas preocupação com meu pouco dinheiro. Quando recaí o que ouvi foram palavras hostis, rostos revoltados e indignados, como se recair fosse um ato sem vergonha, de pura descaração, onde não exisre uma doença. Tudo bem, existem codependentes que nunca vão aceitar que são codependentes e que nunca vão entender que viver também é correr riscos. Viver é a possibilidade de arriscar... Optei por correr riscos mais largar esta vida de padre, sair, olhar a geografia feminina descompromissadamente. Apreciar as belezas e fazer tudo que eu estava impedido de fazer porque estava vivendo no claustro da minha fantasia, de uma ilusão não correspondida. Resolvi voltar a viver e retomar o controle de minha vida para entrega-la a Deus. Eu imaginava que ela estivesse, mas na verdade ela estava em mãos de outras pessoas, que nada entendem de adicção, ou codependencia e de como um adicto deve buscar refazer sua vida, reformulando-a, tentando seguir o programa e isto implica dizer que irei correr riscos de novas recaídas e o que eu espero não é chegar e ser fuzilado pelos olhares raivosos de juízes ignorantes na matéria. Gostaria de que ao invés de lamentarem o dinheiro absurda e loucamente gasto, mas de ouvir a voz humana me indagando: você está se sentindo bem? está precisando de água, leite, de alguma alimentação? quer tomar um banho? Quer descansar? Acredito que posturas mais afirmativas do que negativas aproximam mais. De tempos longos de recuperação é possível recair e se recair, paciência, faz parte da doença, não da recuperação, o que não significa dizer que permanecer recaído seja um procedimento de quem deseja recuperar-se.  Estou vivendo um momento difícil e delicado, onde o ódio pode me lançar no olho da rua. Solicitei a um excelente irmão a devolução do meu cartão e sei que ele não gostou e deve ter feito chantagem emocional, é possível que o fluxo energético do pensamento dele esteja voltado para assistir minha queda, como os demais codependentes esperam. A eles só posso falar só por hoje, não posso prometer ir além disso. Do modo como estava vivendo estava pior do que estar me drogando vez que a sensação de solidão estava me levando a um estado patológico que ouso chamar de loucura. Rompi as amarras, sofrerei resistências e dissabores, mas serei o cara do filme, Beleza Americana, só não desejo passar por alguns lances que ele passou. Tentarei fazer um diário e cuidarei de mim e se por acaso vier a recair, que eu tenha força e ânimo para me levantar. Que meu caráter pacífico se mantenha e dai sempre pra melhor e que eu não tenha alteração alguma de personalidade. Que minha família tente me compreender, que ao menos leia este blog que parece que eles odeiam por achar que o NA e AA possuem ideias extravagantes. Finalizo recordando que foi em um dia de São Cosme e São Damião que iniciei a trabalhar e pouco tempo depois me casei. Ganhava pouco mais que um salário minimo e, ainda assim, comprava e pagava tudo, inclusive os estudos da esposa que formei professora. Hoje é dia de São Cosme e São Damião e agradeço a eles e a todos que entraram na minha vida pra ficar e pra me fazer o bem, mesmo quando eu, aparentemente, não merecer. Eu sou humano, afinal. Será que isto não conta? Custa, dói, incomoda. Doeu em mim. dói em qualquer um, mas foi necessário fazer isso. Adicto foi um escravo que mesmo liberto, quis continuar escravo. Eu quero ser livre! Me deixem viver e vivam suas vidas com a mesma sobriedade que desejam pra mim.

Meditação Diária. NA, 27 de setembro de 2011

 Saindo da rotina

"Existe algo em nossas personalidades auto destrutivas que grita pelo fracasso."

“Pobre de mim, coitado de mim, olhe para mim, minha vida é uma confusão! Eu fracassei e, não importa quanto eu tente, continuo a fracassar”. Muitos de nós chegamos a NA cantando este triste refrão.

A vida não é mais assim. É verdade, algumas vezes ainda vamos tropeçar; às vezes iremos mesmo cair. Algumas vezes, sentimos como se não pudéssemos avançar em nossas vidas, não importando quanto tentemos. Mas a verdade é que, com a ajuda de outros adictos em recuperação em NA, encontramos a mão que nos levanta, sacode a poeira e nos ajuda a começar tudo de novo. Este é o novo refrão em nossas vidas hoje.

Não dizemos mais: “Eu sou um fracasso e não estou indo a lugar nenhum”. Dizemos: “Caramba! Eu tropecei na mesma pedra da estrada da vida. Breve, aprenderei a ir com calma ou evitar o tropeço”. Até lá, podemos continuar a tropeçar de vez em quando, mas já aprendemos que há sempre uma mão nos ajudando e nos colocando em pé novamente.
Só por hoje


Se eu começar a lamentar o fracasso, eu relembrarei que há uma forma de seguir adiante. Vou aceitar o encorajamento e apoio de NA.



Crédito: http://www.nasp.org.br/

NA -STIEP -BAHIA

Grupos Esperança e STIEP de Narcóticos Anônimos (Salvador):

Como participar:
Dois grupos funcionam na paróquia:
Grupo Esperança: seg, ter, sex e sab, das 19h30 às 21h30
Grupo STIEP: qua. e qui, das 9h30 às 11h30.

Contato: Linha de ajuda: 3533-3400 e 8213-1953
Para saber mais: http://www.na.org.br

http://www.pnsesperanca.com/igrea-a-servico/servicos/narcoticos-anonimos-na


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Encontre um Grupo de NA, no Brasil e em sua cidade, no seu bairro: clique aqui


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Salvador Bahia - Rio Vermelho

Grupo Rio Vermelho
Cidade: Salvador
Estado: BAHIA
Endereço: Largo de Santana, S/N (71)8213-1953 - Anexo a igreja de Santana
Bairro: Rio Vermelho
CEP: 40000000
Observações: 1ª estudos dos passos, 2ª fechada, 3ª aberta do mês.
Reuniões
Domingo
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Horário: 18:50 às 2050
 




segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Meditação Diária, Narcóticos Anônimos, 26 de setembro de 2011

Vendo-nos nos outros



“Não nos tornaremos pessoas melhores, julgando os erros dos outros”.
Texto Básico, p. 41

Como é fácil apontar defeitos nos outros! Existe uma razão para isto: os defeitos que identificamos mais facilmente nos outros são freqüentemente aqueles com os quais temos mais familiaridade em nosso próprio caráter. Podemos notar a tendência de nosso melhor amigo em gastar muito dinheiro, mas, se examinarmos nossos próprios hábitos de gastar, provavelmente descobriremos a mesma compulsividade. Podemos julgar que nosso padrinho/madrinha está muito envolvido em serviço, mas descobrimos que não passamos um simples final de semana com nossas famílias nos últimos três meses devido a um ou outro compromisso de serviço.

O que menos gostamos em nossos companheiros é freqüentemente o que menos gostamos em nós mesmos. Podemos aproveitar esta observação em nosso benefício espiritual. Quando somos tomados pelo impulso de julgar outra pessoa, podemos redirecionar o impulso de maneira a reconhecer nossos próprios defeitos mais claramente. O que vemos irá guiar nossas ações para recuperação e nos ajudar a nos tornar indivíduos felizes e emocionalmente saudáveis.

Reflexão do dia, Alcoólicos Anônimos, 26 de Setembro de 2011

NOSSOS FILHOS


Pode ser que o alcoólico tenha dificuldades em restabelecer relações amigáveis com seus filhos... Com o tempo verão que ele é um homem novo e entenderão a sua maneira... A partir daí, o progresso será rápido. Ótimos resultados frequentemente se seguem depois de uma reconciliação como esta.
ALCOÓLICOS ANÔNIMOS



Enquanto no caminho da sobriedade, recebi um presente que não poderia comprar. Foi uma carta de meu filho no colégio dizendo: “Pai, você não pode imaginar como estou contente sabendo que tudo está bem. Feliz Aniversário, eu te amo.” Meu filho já tinha me dito na festa, quando ele me disse chorando: “Papai eu te amo! Não podes ver o que estás fazendo a você mesmo?” Eu não podia. Sufocado pela emoção, eu tinha chorado, mas desta vez quando recebi a carta de meu filho, minhas lágrimas foram de alegria, não de desespero.

domingo, 25 de setembro de 2011

“Recado para os adictos em recuperação”

É comum ao dependente químico em tratamento, aprender em poucos dias toda a literatura oferecida. O livro azul de Narcóticos anônimos está sempre por perto e volta e meia cita  os  “doze passos”. São folhetos e mais folhetos.  Assim,  rapidinho aprende a fazer um discurso belo e convincente em cima da literatura. 
Isto a gente vê, quando visita uma clínica. (Estou falando de clínica de “Doze passos”, sem os quais não há tratamento possível). Lá, além da literatura,  todos parecem conhecer as virtudes essenciais para a recuperação, como mente aberta, honestidade  e boa vontade. Mas, será que é tudo isto mesmo? Se for assim, porque recaem?Muito simples. Quando saem da clínica para a vida dura, não praticam os doze passos. Uma coisa é a teoria. Outra muito diferente é a prática.  Desta forma, enfraquecidos, retomam as antigas maneiras de pensar e agir, voltando infelizmente ao uso de drogas. Uma coisa é falar de princípios espirituais como é o caso dos doze passos. Outra muito diferente, é vivê-los.  Um dia, Jesus disse: “Aquele que ouve a verdade e não a pratica, é semelhante a um homem insensato que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa. E ela caiu.”Assim também,  é com o adicto em recuperação. Se ele conhece a programação  na ponta da língua, mas não a pratica, de nada adianta. Isto é como construir casa na areia: mais dia menos dia, certamente ela cairá. Sem a prática dos “doze passos”, a recaída é inevitável.Quero lembrar também que, para ajudar na recuperação, são indispensáveis: a fé, a força e o compromisso.. A fé possibilita acreditar que a recuperação é possível, só por hoje.A força  para continuar em recuperação  vem  através da fé.E o compromisso com a recuperação, possibilita uma nova maneira de viver. Fiquem espertos.Contem comigo, conto com vocês.


Irani M.Vitorino de CastroE-mail: irani.castro@hotmail.com(12) 3674-3899 
Fonte Vale News

Reflexão do dia, Alcoólicos Anônimos, 25 de Setembro de 2011


PRIMEIRO AS PRIMEIRAS COISAS 

Alguns de nós sofremos duros golpes para aprender a seguinte verdade: com ou sem emprego, com ou sem esposa, simplesmente não pararemos de beber enquanto dependermos de outras pessoas antes de depender de Deus.
ALCOÓLICOS ANÔNIMOS



Antes de vir para A.A., sempre tinha uma desculpa para beber: “Ela disse...” “Ele disse...”, “Fui despedido ontem...”, “Consegui um bom emprego hoje...”. Nenhuma área de minha vida estará bem se beber novamente. Na sobriedade, minha vida se torna melhor a cada dia. Devo sempre me lembrar de não beber, de confiar em Deus e de me manter ativo em A.A. Estou colocando qualquer coisa na frente de minha sobriedade, de Deus e de A.A. no dia de hoje?

Meditação Diária, Narcóticos Anônimos, 25 de setembro de 2011

O Quarto Passo – temendo nossos sentimentos

"Podemos temer que o contato com os nossos sentimentos vá detonar uma insuportável rendição em cadeia de dor e pânico."
Texto Básico, pág. 32


Uma queixa comum sobre o Quarto Passo é que ele nos faz dolorosamente conscientes de nossos defeitos de caráter. Podemos ser tentados a hesitar em nosso programa de recuperação. Através da rendição e aceitação, podemos achar os recursos de que precisamos para continuar trabalhando os passos.

Não é tomar consciência de nossos defeitos de caráter que causa a maior agonia – são os próprios defeitos. Quando estávamos usando, tudo o que sentíamos eram as drogas; podíamos ignorar o sofrimento que nossos defeitos estavam nos causando. Agora que as drogas se foram, sentimos esta dor. A recusa em tomar conhecimento da fonte de nossa angústia não a faz ir embora; a negação protege a dor e a faz mais forte. Os Doze Passos nos ajudam a lidar com a miséria causada por nossos defeitos, lidando diretamente com eles.

Se nossos defeitos nos causam dor, podemos nos relembrar do pesadelo da adicção, pesadelo do qual agora despertamos. Podemos nos recordar da esperança de libertação que o Segundo Passo nos deu. Podemos novamente entregar nossas vontades e nossas vidas, através do Terceiro Passo, aos cuidados do Deus de nossa compreensão. Nosso Poder Superior cuida de nós nos dando a ajuda de que precisamos para trabalhar o restante dos doze Passos. Não temos que temer nossos sentimentos. Só por hoje, podemos continuar nossa recuperação.

Só por Hoje: Eu não vou ter medo de meus sentimentos. Com a ajuda de meu Poder Superior, eu vou continuar minha recuperação.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Espelho e primavera

O seu mais leve olhar
vai me fazer, facilmente
desabrochar apesar de eu
ter me fechado
como um punho cerrado
você me abre
sempre
pétala por pétala
como a primavera
abre
(tocando de leve
misteriosamente)
sua primeira rosa.
e.e. cummings

Como no mundo real podemos nos tocar por meio de palavras. Elas podem ser sentidas. É como se estivéssemos separados por um espelho, em cuja imagem refletida já não me vejo, porque eu me permito mergulhar no mundo do próximo. Não é uma invasão de privacidade, mas de mundos opostos. Os cenários mudam, ganham e perdem cores de acordo com as palavras ditas e sentidas. Tenho mente aberta, boa vontade e honestidade e sou sereno. Quando escrevo busco ser alegre e feliz, e, hoje, retiro do meu céu interior, aquelas nuvens cinzentas que anunciavam uma tempestade. 

Embora a tecnologia me ofereça recursos, como poder ver e falar com quem está do outro lado do espelho, prefiro tocar e ser tocado com palavras e fazer uso dos meus sentidos como se eu fosse um deficiente qualquer, não importa. Já me passou pela cabeça valer-me da personagem emprestada pelo Fantasma da Ópera para contar minha história de vida, sem maquilagem. Sinto-me, muitas vezes como um ser que busca se esconder nos subterrâneos do nosso imenso teatro chamado vida. Posso tudo e não posso nada. Tenho a ilusão e os sonhos que me acalentam e me levam a voar para o que eu denominaria como as Terras do Nunca, do mundo mágico e fantasioso de um Peter Pan. Posso ver Cinderelas anônimas, compondo seus rostos e vestes como quem compõe uma sinfonia que só terá um único espectador na platéia. Posso ver através do espelho pessoas bonitas, que repartem seus mundos particulares e ao mesmo tempo buscam, como alquimistas, algo de pedra filosofal, quem sabe o bálsamo da paz, do renascimento, do recomeçar tudo do zero, outra vez, redimensionando tudo, pesando, medindo, adequando e ensinando como é bom viver sóbrio e distribuir sobriedade pelo encantado mundo dos espelhos, que nos coloca no plano virtual, que é tão real quanto o Deus das nossas concepções. Podemos tocar e sermos tocados, podemos ouvir e até perfumarmos as palavras com o odor suave dos lírios, ou das rosas, orquídeas... 

Buscamos algo que se perdeu e que ainda existe em nossas imaginações. Muitas vezes, na cristaleira dos nossos corações, deixamos que destruíssem finos cristais que guardávamos carinhosamente, como quem guarda jóias raras dentro de um cofre, mas nosso cofre é o coração que não cansa em restaurar cacos do que jamais será o que já foi um dia. A dor também nos ensina e quando a dor é imensa e intensa buscamos lança-la para fora, como quem busca ver o invisível, mas é bom e funciona se tivermos, pelo menos, alguém que também nos veja dentro do próprio espelho, que tenha nossos mesmos sentidos e a nossa exposição resulta noutras palavras de retorno que iremos colher com nossos ouvidos. O mal, já lançamos fora, como quem retira espinhos da alma e é confortante sermos tocados e abençoados por palavras que curam nossas chagas, Um dia, talvez, um dia, teremos nossas purezas       d´alma e inocências de volta ao reino da alegria, da felicidade, do bem estar, e da leveza que recebo através dos espelhos do meu mundo particular. Conforta-me o "penso, logo existo", como conforta-me saber que há gente bela no mundo e que nada está perdido porque somos incapazes de perder a esperança e só quem sente e vive sabe dar valor aos sentimentos, meus, seus e todos os sentimentos do mundo. Chegamos à primavera e só posso tocar as flores do meu jardim encantado com afagos de palavras, através do espelho. No espelho em que não me vejo, mas posso ver e sentir o mundo inteiro através dele. Uma primavera com mente aberta, boa vontade e honestidade, brotando como flores nos corações de quem vive. 

Alcoólicos Anônimos, Reflexão Diária, 22 de Setembro de 2011

UM "FILÃO INESGOTÁVEL"

Como garimpeiros famintos, depois de apertar o cinturão com a barriga vazia, encontramos ouro. A alegria que sentimos ao sermos libertos de uma vida de frustrações era ilimitada. Papai pensa que encontrou algo melhor do que ouro. Por algum tempo poderá querer guardar o tesouro para si mesmo. Poderá não perceber, de início, que apenas tocou a superfície de uma mina infinita, que só pagará dividendos se a explorar para o resto da vida e insistir em doar aos outros toda a produção.
ALCOÓLICOS ANÔNIMOS PG. 144 145

Quando converso com um ingressante em A.A., meu passado me olha diretamente no rosto. Vejo a dor naqueles olhos cheios de esperança, estendo minha mão e então o milagre acontece: fico aliviado. Meus problemas desaparecem quando estendo a mão para essa alma trêmula.

Meditação Diária, Narcóticos Anônimos, 22/09/2011

Mantendo a dádiva

"A vida assume um novo significado quando nos abrimos a esta dádiva."
Texto Básico, pág. 116

Descuidar de nossa recuperação é como descuidar de qualquer outra dádiva que tenhamos recebido. Suponha que alguém lhe deu um carro novo. Você o deixaria na estrada até que os pneus se estragassem? Você apenas o dirigiria ignorando a manutenção rotineira, até que ele se acabasse na estrada? E claro que não! Você faria todo o possível para manter em boas condições uma dádiva tão valiosa.

Recuperação também é uma dádiva e temos que cuidar dela se queremos mantê-la. Como nossa recuperação não vem com uma longa garantia, existe um programa rotineiro de manutenção. Esta manutenção inclui frequência regular às reuniões e várias formas de serviço. Teremos que fazer alguma limpeza diária – nosso Décimo Passo – e, de vez em quando, uma revisão geral do Quarto Passo será necessária. Mas, se mantivermos a dádiva da recuperação, agradecendo ao Doador cada dia, ela continuará.

A dádiva da recuperação cresce sendo doada. A não ser que seja dada, não podemos mantê-la. Mas, partilhando nossa recuperação com os outros, nós a valorizamos mais ainda.

Só por Hoje: Minha recuperação é uma dádiva e eu quero mantê-la. Eu vou fazer a manutenção necessária e vou partilhar minha recuperação com os outros.

Quem confia em si mesmo tem sonhos grandes


Há algum tempo, fiz uma palestra em uma grande faculdade de São Paulo. No final da apresentação, enquanto tomava um suco com os alunos, apareceu um jovem muito entusiasmado, que me falou:
- Doutor Roberto, adorei a sua palestra! Eu penso grande, assim como o senhor!
- É mesmo? — perguntei, contente. — E quais são suas metas?
- Quero ser presidente de uma multinacional.
- O que mais? — perguntei, no embalo.
- Quero ganhar 1 milhão de dólares por ano.
- O que mais?
— Quero viajar de primeira classe, ter carros importados...
Naquele momento, notei que ele já estava ficando sem ter o que falar.
- O que mais? — acrescentei.
Ele respondeu, meio sem graça:
- Mais nada. Isso está bom!
— Puxa vida! — comentei. — Em suas metas de vida não há amigos queridos, uma família gostosa, um espaço para rezar um pai-nosso em paz? — Brinquei com ele: — Nós dois temos idéias muito diferentes sobre o que significa ser grande. Eu não costumo pensar na minha vida apenas olhando para as coisas que o dinheiro pode com­prar. Aliás, essa é uma das menores riquezas que existem. Há muito mais que isso em nossa vida.
Tenho certeza de que, naquela noite, o rapaz dormiu pensando se vale a pena viver apenas para ganhar dinheiro.
Somente ter sucesso profissional é muito pouco. Somente ganhar dinheiro não basta. Quem confia realmente em si mesmo, nos seus propósitos e na sua capacidade de ser feliz e fazer diferença positiva no mundo tem sonhos muito maiores que esses.

Fonte: ROBERTO SHINYASHIKI, Trecho do livro "A CORAGEM DE CONFIAR, O MEDO É O SEU PIOR INIMIGO". Editora Gente

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

" O QUE É SERENIDADE! ", Dr. Reinhold Niebuhr

O termo é definido de varias maneiras: a calma, o sossego, a paz, e tranqüilidade, a paz da mente, o equilíbrio emocional, o estado não perturbado, o sangue frio e o domínio de si mesmo. Contudo, do ponto de vista prático, talvez a melhor definição seria "a capacidade de viver em paz com os problemas não resolvidos".

A Oração da Serenidade fala em "aceitar as coisas que não podemos modificar". A ACEITAÇÃO não deve ser confundida com a concordância. Nem sempre concordamos, ou gostamos com o modo como as coisas acontecem ou são conduzidas a nossa volta, temos este direito. Temos o direito de escolher nossos gostos e opiniões, como todas as pessoas o têm; mas temos obrigação de respeitar quem é, sente e pensa diferente de nós outros e vice-versa.

Em muitos momentos é possível que seja verdade que estejamos coerentes e certos em nossas posições, mas muitas vezes isto contribui pouco ou quase em nada para mudar a realidade a nossa volta . O quê fazer então?

Entregar-se a sentimentos oriundos da contraridedade, como a raiva, a revolta e sentimentos de revanchismo?

Em A.A. nós entendemos que é nesse momento que devemos lançar mão da ORAÇÃO da SERENIDADE. Talvez possamos dizer que o resultado da prática da ORAÇÃO da SERENIDADE seja o DESLIGAMENTO EMOCIONAL dos fatos, coisas e pessoas que não podemos modificar.

Mas é preciso compreender que ACEITAÇÃO não é indiferença. A indiferença deixa de distinguir entre as coisas que podem e as que não podem ser mudadas. A indiferença paralisa a INICIATIVA para que modifiquemos as coisas que podemos.

A aceitação libera a iniciativa, aliviando-a das "cargas impossíveis", transferindo o foco da ação para o "possível".

A ACEITAÇÃO é um ato do LIVRE ARBÍTRIO, mas, para ser eficaz, requer a CORAGEM moral de se persistir apesar do problema imutável. A aceitação liberta o aceitante, rompendo-lhe as cadeias da auto piedade.

Uma vez que aceitamos o que não pode ser modificado, ficamos livres emocionalmente e psicologicamente para nos empenhar em novas atividades..

Foi dito que uma mente imatura procura um mundo idealístico. Queiramos ou não, precisamos encarar o mundo da realidade e aceitar a vida tal qual ela é, com todas as suas crueldades e inconsistências.

Talvez, em última análise, o inicio da SABEDORIA esteja na simples admissão de que as coisas nem sempre são como queríamos que fossem.

E que nós mesmos somos imperfeitos e não tão bondosos e trabalhadores quanto gostaríamos de ser.

Oração da Serenidade

Concedei-nos Senhor a Serenidade necessária,
para Aceitar as coisas que não podemos modificar;
Coragem para modificar aquelas que podemos;
e Sabedoria para distinguir umas das outras.



Dr. Reinhold Niebuhr
Vivência Nº 22 - Outubro/Novembro/Dezembro 1992
Que o PS conceda-nos infinitas 24 Horas. SÓ POR HOJE!
Luizsereno

Gratidão gera confiança

No livro Insights into excellence [Critérios de excelência], o palestrante norte-americano Charles Plumb conta uma história muito bonita.
Ele era piloto de bombardeiro na guerra do Vietnã. Depois de mais de 85 missões de combate, uma semana antes de voltar para casa, seu avião foi derrubado por um míssil. Plumb saltou de pára-quedas, foi capturado e passou seis anos numa prisão norte-vietnamita.
Ao retornar aos Estados Unidos, passou a dar palestras relatando sua odisséia e o que aprendera na prisão.
Certo dia, num restaurante, foi saudado por um homem:
- Olá, você é Charles Plumb, que era piloto no Vietnã e foi derrubado, não é mesmo?
- Sim, como sabe? Nós nos conhecemos? — pergun­tou Plumb.
— Sim e não... Era eu quem dobrava seu pára-quedas. E me parece que ele funcionou bem, não é verdade?
Plumb quase sufocou de surpresa. Com muita gratidão, respondeu:
— Claro que funcionou! Afinal, é por isso que estou aqui hoje.
Ao ficar sozinho naquela noite, Plumb não conseguiu dormir pensando no que ocorreria no restaurante e se perguntando: "Quantas vezes vi esse homem no porta-aviões e nunca lhe disse bom dia? Eu era um piloto arro­gante e ele um simples marinheiro".
Pensou também nas horas em que o marinheiro passara humildemente no barco, enrolando os fios de seda de vários pára-quedas, tendo nas mãos a vida de pessoas que nem ao menos conhecia.
Depois disso, Plumb passou a iniciar suas palestras per­guntando à platéia: "Você sabe quem dobrou seu pára-que­das hoje?"
Você já pensou em quantas pessoas trabalham para que você possa estar vivendo este momento de sua vida? Con­vido você a telefonar para uma dessas pessoas e simples­mente dizer a ela: "Obrigado por dobrar meu pára-quedas!"
Gratidão gera segurança. Um vínculo de gratidão cria confiança extra entre as pessoas envolvidas por esse sen­timento.
Infelizmente, muita gente hoje em dia tem o hábito de cuspir no prato em que comeu. Para elas, as pessoas são apenas degraus de uma escada que têm de subir para ga­nhar poder. Todos à sua volta são vistos como simples motoristas para levá-las ao sucesso. Jogam fora as pessoas de seu passado como se fossem lixo descartável.
As pessoas que descartam os outros, sem dor na cons­ciência, criam apenas relacionamentos de interesse. Aos poucos viverão a angústia de perceber que elas também se tornam descartáveis para os outros.
Mas sabemos que você é diferente, que tem o coração grande. Por isso, pegue o telefone agora mesmo e faça al­gumas ligações para essas pessoas que pavimentam as estradas em que você caminha. E, do fundo do coração, agradeça por tudo que elas têm feito por você.

Fonte: ROBERTO SHINYASHIKI, Trecho do livro "A CORAGEM DE CONFIAR, O MEDO É O SEU PIOR INIMIGO". Editora Gente

"Só sei que nada sei"

Li, faz algum tempo, que muitas vezes imaginamos conhecer todas as respostas, ai vem a vida e muda todas as perguntas. Quem sabe tudo não sabe nada. Talvez o fato de sermos eternos aprendizes tenha levado Sócrates àquela sentença que reza "só sei que nada sei". Verificando dados estatísticos parece que os adictos vivem numa roda-gigante, num eterno sobe e desce, girando até chegar o momento de pegar a pista. Os ensinamentos de Alcoólicos Anônimos, da sua literatura, que serviu de espelho para o NA, contem muita sapiência. O despertar espiritual parece algo simples e é mas não chega num simples estalar de dedos. 
Literatura é sempre uma surpresa. Com uma certa idade um simples conto de fadas nos revela uma mensagem superficial, mas, com o passar dos anos, relendo o que julgamos ser "água com açúcar" verificamos muito mais coisas. Tenho uma amiga, Dorothy, cuja história de vida se encaixa na história do mágico de Oz por isso é que a chamo de Dorothy. Na vida real existem tantas gatas borralheiras, tantas cinderelas, bruxas, mulheres invejosas, um lobo mau, uma inocente chapeuzinho, uma Rapunzel, dificil é arrumar sete anões, mas até estes seres podem ter uma outra significação. Muitas vezes é necessário transceder, ir além, viajar na estória e verificar o quanto guardam em sabedoria que desdenhamos. 
Há, em o Pequeno Príncipe, muitos lances adultos, muitas analogias, alegorias, relações de dependência e até codependência. A Bíblia não canso de ler e cada vez que leio há novos ensinamentos a extrair da leitura. As leituras da literatura do AA e do NA é assim, sempre trazem algo novo que julgávamos compreender. Pura ilusão. Tenho que ter a mente aberta, humildade para reconhecer isto com boa vontade. Antes dessa minha recaída, que considerei muito mais uma queda moral do que qualquer outra coisa eu escrevi coisas que indicavam exatamente a possibilidade de recaída e fiquei preso à síndrome do confinamento. Fui descuidado, desprezei leituras, achei que sabia demais. Enfim, errei. Agora é prosseguir minha jornada diária procedendo revisões e, ainda assim, sei que não estou livre de recaídas.
Tenho que aceitar as agressões de presunçosos, analfabetos em adicção e em codependencia, porque acham que sabem tudo e acham que adicção é descaração. Hoje compreendo muito mais o amor e a vaidade humana e sei que, muitas vezes, a vaidade se sobrepõe ao amor e passa a ditar absurdos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Audiência, preferências do leitor

Estive examinando as estatísticas do blogger para este blog e pude verificar que a maioria absoluta dos leitores do mesmo estão inclinadas à leitura de textos de AA e bem menos de NA. Refiro-me ao que notei de relevante para análise. Pelo google analytics só há uma taxa de rejeição que considero alta e que os blogueiros mais experientes dizem que chegar a uma taxa de 56% de rejeição está bom demais. Entretanto, os detalhes desta rejeição relacionam-se a atividades comerciais, que este blog não possui. Aquele lance de colocar links que retiram o leitor do blog, não deve ser bom e, para mim, isso importaria para ampliar a taxa de rejeição. O Estado de São Paulo é campeão em acessos. O blog alcançou todos os estados nacionais. Outros dados relevantes é que, o perfil do frequentador do blog é o do adicto em busca de informação. Eles não buscam relatos pessoais. Salvo uma "Carta de um ex-drogado" que entra na parada de sucesso, com grande audiência. Nesta semana, isto é, nestes últimos 7 dias, os artigos mais lidos, por ordem, foram: "A mudança, viver SÓBRIO", "Do Livro Viver Sóbrio", "Vá com Calma", "Reflexão Diária de AA" e "Meditação Diária de NA". Isso me faz crer que a presença dos Alcoólicos, no blog, é muito significativa. Durante o ano vence a "Carta de um ex-drogado", seguido, por ordem decrescente dos artigos: "Como é o Crack"; "Nova Droga Produzida na Russia"; Qual a droga mais perigosa do mundo" e "Reflexão do dia" dos Alcoólicos anônimos. Há uma certa curiosidade sobre drogas e se eu fosse um sujeito interessado em mudar de linha, só para obter mais audiência, cairia no sensacionalismo e, buscaria atender à demanda dos alcoólicos e familiares destes. A grande surpresa de hoje foi o artigo "Gilbert, um Bullying" que entrou no top de leitura. Trata-se de um excepcional que era muito massacrado pelo falso machismo de muita gente e pela agressividade consentida de um Pastor contra o pobre excepcional. Aliás, eu deveria denunciar este caso a APAE para as devidas providências. O caso também merecia enquadramentos outros vinculados ao mundo dos gays, vez que o Gilbert era vítima de homofobia, o que é considerado crime. Sei que parece burrice, mas não irei mudar a linha do blog. Sei que muita gente gostaria de saber muitas coisas de ordem pessoal, mas nem tudo pode ser dito. É complicado falar a verdade e, ao final das contas, drogas, consumo de drogas, leva ao tráfico e não convém entrar no terreno policial. Chego até onde posso chegar. Poderia alertar os pais com relação aos seus filhos, de ambos os sexos. Poderia falar sobre a exploração sexual, a promiscuidade e outras coisas mais, a razão dos pés doloridos, do corpo moído, do sono restaurador. De como é a noite, mas tudo esbarra em entraves éticos. Seria bom, mas não posso fazer isso. Escrevo de improviso, numa penada só, de modo que muitas vezes eu perco o freio e isso não é nada bom. Cometo desatinos. Minha autenticidade me põe, muitas vezes, numa posição pouco inteligente. Mas, enfim, rendo-me as evidências e sinto-me ligeiramente frustrado.

" O EGO E SUAS MANIFESTAÇÕES "


No Quinto Passo de A.A. encontramos um componente essencial do Programa de Recuperação, ele nos alerta para o fato de que: "todos os Doze Passos nos pedem para atuar em sentido contrário aos desejos naturais, todos desinflam nosso ego" . 

Uma profunda deflação do ego foi o caminho indicado ainda no final dos anos 20 pelo eminente Dr. Carl Jung a um alcoólico que o procurou buscando solução para o seu gravíssimo problema. Dizia esse médico "...reconheça a sua impotência pessoal e que se entregue ao Deus que você pensa existir. Terá que tentar isso, é a sua única saída" . Essa deflação do ego é atualmente a pedra angular dos princípios de A.A. 

Nesse mesmo sentido o Dr. Tiebout destaca dois fatores essenciais à manutenção da sobriedade, ambos emanados do anonimato conforme suas palavras, duas faces da mesma moeda: primeiro a preservação de um ego reduzido, segundo a presença contínua de humildade ou simplicidade.

Com efeito a Tradição de A.A. coloca o anonimato como "o alicerce espiritual das nossas Tradições" vindo daí a inevitável conclusão de que é preciso "colocar os princípios acima das personalidades" .

Segundo o autor esse ego não é um conceito intelectual, mas sim um estado de sentimento ? uma sensação de importância ? diríamos uma necessidade de ser especial . Vemos hoje por aí afora pessoas tentando ser especiais, e mesmo em nossa irmandade quantas vezes queremos ser especiais pelos mais variados motivos. Aprendemos em A.A. sobre o risco de bajular um alcoólico com honrarias e louvores e por isto evitamos o culto à personalidade. A realimentação do ego é fatal para nós bebedores em recuperação. 

A Segunda Tradição traz em seu enunciado um antídoto para essa ameaça ao definir que os nossos líderes são apenas servidores de confiança, não tendo poderes para governar.

Portanto, a nossa experiência demonstra que em todos os aspectos da recuperação precisamos manter uma atitude de permanente defesa contra a exacerbação do ego e o serviço em A.A. deve ser uma forma de crescimento espiritual, jamais meio de afirmação pessoal.

Outro aspecto preocupante nos dias atuais foi abordado pelo Dr. Tibeout no artigo que ora compartilhamos. Trata-se da prática infelizmente ainda hoje existente de comemorar-se tempo de sobriedade com bolos e acrescentaríamos, festas. Tomemos as palavras do eminente médico sobre esses episódios acontecidos, segundo ele, nos primeiros dias de nossa então florescente irmandade:

"Uma olhada ao que aconteceu nos mostra o egoísmo, como eu o vejo, em ação. Em primeiro lugar, a pessoa que esteve sóbria por um ano inteiro, tornou-se um exemplo, algo para se admirar. Seu ego naturalmente se expandiu, seu orgulho floresceu e qualquer diminuição de egoísmo, obtida anteriormente, desapareceu. Tendo sua confiança renovada, acabou por tomar um drinque. Tinha sido considerada especial, e reagiu de acordo. Depois, essa parte especial se esvaiu. Nenhum ego é alimentado, estando na condição de lugar comum, e desse modo, o problema de ego desaparece.
Hoje A.A., na prática, está bem consciente do perigo de se bajular alguém com honrarias e louvores. Os riscos da realimentação do ego são reconhecidos. A frase `servidor de confiança constitui-se num esforço para manter baixo o nível do egoísmo, embora alguns servidores tenham problema nesse particular" 

Definido como um estado da mente, o egoísmo tira o indivíduo da sua condição de mero participante do contingente da humanidade para alçá-lo à condição de ser especial, conseqüentemente, diferente. A insistência de A.A. no princípio do anonimato individual, tem fundamental importância como antídoto natural para a forte tendência dos alcoólicos em sentirem-se especiais, levando-os para uma região distante da verdadeira humildade, por conseguinte, colocando-os muito próximo da perigosa zona de hiperinflação do ego.

Por outro lado o ego pode levar o indivíduo ao extremo oposto do "sentir-se especial", mergulhando no pântano da autopiedade por não conseguir suportar ou admitir as suas falhas, fraquezas e impotências. O sentimento de inferioridade dele se apossa fazendo-o sentir-se inferior, o último dos mortais, incapaz de alçar seus vôos de grandeza e superioridade.

Em nossa Sexta Tradição encontramos a síntese desses dois aspectos ao lembrar-nos que: "...a maioria dos alcoólicos não passa de idealistas falidos. Quase todos dentre nós tínhamos desejado fazer um grande bem, praticar atos, personificar grandes ideais. Somos todos perfeccionistas que, à falta da perfeição, nos bandeamos para o extremo oposto e aderimos à garrafa e à escuridão". 

Aceitar ser o "nada", caminhar no sentido contrário aos desejos naturais, eis o problema de muitas pessoas. Porém, aprender a agir como um nada é entender a importância de ser um simples indivíduo, cidadão do dia-a-dia, integrado à raça humana e fundamentalmente anônimo. Atingir esse nível de compreensão permite desenvolver, aí sim, a verdadeira individualidade, que permite viver uma vida não circunscrita a fatos e circunstâncias, mas estar pronto para aceitar as adversidades como oportunidade para crescimento. Vivendo e deixando viver, livre das injunções do perfeccionismo e das auto-cobranças. Vivendo o hoje intensamente com alegria, plena satisfação consigo mesmo e a certeza de que é capaz de viver um dia por vez. Em A.A. conhecemos esse programa como o plano das vinte e quatro horas, que nos permite construir hoje o nosso amanhã, portanto, sem nos preocuparmos com ele.

Que o anonimato continue sendo o manto protetor de nossa irmandade, proteção contra o ego e suas devastadoras manifestações, permitindo que em A.A. cada indivíduo sinta-se apenas mais um, assimilando o sentimento de "eu não sou nada de especial", assim buscando a verdadeira humildade, salvaguarda contra futuros problemas com relação ao álcool.


"Compreendo o motivo pelo qual você se espanta ao ouvir alguns oradores de A.A. dizerem: `Nosso programa é um programa egoísta. A palavra egoísta geralmente significa que se é ambicioso, exigente e indiferente ao bem-estar dos outros. Claro que o modo de vida de A.A. não apresenta esses traços indesejáveis.

O que querem dizer esses oradores? Bem, qualquer teólogo lhe dirá que a salvação de sua própria alma é a mais alta aspiração que um homem pode ter. Logo, sem salvação – podemos definir assim - ele terá pouco ou nada. Para nós de A.A. a urgência é ainda maior.

Se não podemos ou não queremos alcançar a sobriedade, então estamos desde já verdadeiramente perdidos. Não temos valor para ninguém, nem para nós mesmos, até nos libertar do álcool. Logo, nossa própria recuperação e crescimento espiritual têm que vir em primeiro lugar – uma justa e necessária espécie de preocupação com nós mesmos." 

Carta de 1966

Crédito: Entre sem Bater
Literatura Oficial de Alcoólicos Anônimos 
FONTE:- ALCOÒLICOS ANÔNIMOS ATINGE


Meu nome é Esperança !



UMA PERSPECTIVA DE VIDA PARA SI 

Para a maior parte das pessoas normais, beber significa sociabilidade, camaradagem e uma imaginação viva. Quer dizer libertação de cuidados, do tédio e de preocupações. É a intimidade alegre com amigos e o sentimento de que a vida é boa. Mas não era assim para nós nos últimos tempos em que bebíamos em excesso. Os antigos prazeres tinham desaparecido. Já não eram senão recordações. Nunca conseguíamos reencontrar os grandes momentos do passado. Havia um desejo persistente de gozar a vida como a tínhamos conhecido e uma confrangedora obsessão de que um novo milagre de controle tornaria isso possível. Havia sempre mais uma tentativa e um novo fracasso. 

Quanto menos os outros nos toleravam, mais nos afastávamos da sociedade, da própria vida. À medida que nos tornávamos súbditos do Rei Álcool, habitantes trêmulos do seu reinado demente, o nevoeiro gelado que é a solidão abatia-se sobre nós, tornando-se cada vez mais espesso e sempre mais escuro.

Alguns de nós procurávamos lugares sórdidos, na esperança de encontrar companhia compreensiva e aprovação. Por momentos conseguíamos - depois vinha o esquecimento total e o horrível despertar para defrontar os terríveis Quatro Cavaleiros do Apocalipse: o Terror, a Confusão, a Frustração e o Desespero. Os bebedores infelizes que leiam estas linhas e eles vão compreender! 

De vez em quando, uma pessoa que beba muito, mas esteja sem beber na altura, dirá: "Não me faz falta nenhuma. Sinto-me melhor. Trabalho melhor e divirto-me mais". Como ex-bebedores problema que somos, esta saída faz-nos sorrir. Sabemos que essa pessoa é como uma criança a assobiar no escuro para afugentar o medo. Só se ilude a si própria. No fundo, daria tudo por beber meia dúzia de copos e ficar na mesma. Vai pôr de novo à prova o velho jogo, porque não está feliz com a sobriedade que tem. Não consegue imaginar a vida sem álcool. Chegará o dia em que não vai ser capaz de conceber a vida nem com álcool nem sem álcool. Conhecerá então como poucos a solidão. Estará no momento de saltar para o vazio. Vai então querer que chegue o fim. 

Já mostramos como saímos do fundo. Poderá dizer: "Sim, estou disposto. Mas terei que ficar condenado a uma vida em que me sentirei estúpido, aborrecido e triste, como a de certas pessoas "virtuosas" que conheço? Eu sei que tenho de passar sem álcool, mas como é que é possível? Você tem algum substituto adequado?" 

Sim, há um substituto e é muito mais do que isso. É pertencer a Alcoólicos Anônimos. Aí vai encontrar a libertação da inquietude, do tédio e da preocupação. A sua imaginação vai ser estimulada. A vida terá finalmente um significado. Os melhores anos da sua vida estão para vir. Foi isso que encontramos nesta comunidade e assim será para si também.

"Como é que isso me poderá acontecer?", pergunta. "Onde posso encontrar essas pessoas?" 

Você vai encontrar esses novos amigos no sítio onde vive. Perto de si, há alcoólicos a morrer sem nenhum auxílio, como náufragos de um barco que se afunda. Se vive numa grande cidade, há centenas deles. Da classe alta e da classe baixa, ricos e pobres; estes são os futuros membros dos Alcoólicos Anônimos. Entre eles encontrará amigos para toda a vida. Vai ficar ligado a eles por novos e maravilhosos laços, porque terão escapado juntos do desastre e, lado a lado, irão começar uma caminhada em conjunto. Então perceberá o que significa dar de si próprio para que os outros possam sobreviver e redescobrir a vida. Aprenderá o pleno significado de "Ama o teu próximo como a ti mesmo". 

Pode parecer incrível que estas pessoas venham a ser felizes, respeitadas e de novo úteis. Como podem sair de uma tal infelicidade, má reputação e desesperança? A resposta concreta é que, se estas coisas aconteceram entre nós, elas também podem acontecer consigo. Se o quiser acima de tudo e estiver disposto a utilizar a nossa experiência, estamos certos de que lhe acontecerá também o mesmo. Ainda estamos na era dos milagres. A nossa própria recuperação é testemunho disso. 

A nossa esperança é de que este modesto livro, uma vez lançado na onda mundial do alcoolismo, seja agarrado pelos bebedores derrotados que seguirão as nossas sugestões. Estamos certos de que muitos se porão de pé para empreender a caminhada. Eles encontrarão outros, ainda doentes, e assim, poderão formar-se grupos de Alcoólicos Anônimos em todas as cidades e aldeias, que serão verdadeiros abrigos para aqueles que precisam de encontrar uma solução. 

No capítulo "Trabalhando com os outros" você ficou com uma idéia de como abordamos e ajudamos os outros a recuperar a saúde. Suponha agora que, por seu intermédio, várias famílias adotaram este modo de vida. Você vai querer saber algo mais acerca de como proceder a partir daí. Para lhe dar uma idéia do que o espera, talvez o melhor seja descrever como cresceu a Comunidade entre nós, o que a seguir descrevemos em poucas palavras: Há anos, em 1935, um dos nossos membros fez uma viagem a uma certa cidade do oeste do país. Do ponto de vista de negócios, a viagem correu mal. Se ele tivesse obtido êxito, o seu empreendimento ter-se-ia podido recompor financeiramente, o que na altura, parecia ser de uma importância vital. Mas o negócio terminou em litígio e fracassou por completo. O processo foi acompanhado de muito rancor e controvérsia.

Com amargura e desencorajado, ele viu-se desacreditado e praticamente falido, num sítio desconhecido. Ainda fisicamente debilitado e sóbrio apenas há alguns meses, viu bem que a sua situação era perigosa. Queria muito falar com alguém, mas com quem? 

Numa tarde sombria, ele andava de um lado para o outro no hall do hotel a pensar como iria pagar a sua conta. Num canto da sala havia uma vitrina com uma lista das igrejas locais. Ao fundo, uma porta dava para um bar sedutor. Lá dentro, ele podia ver gente bem disposta. Aí, ele poderia encontrar companhia e descontração mas, a não ser que bebesse uns copos, ele não iria possivelmente ter coragem para meter conversa e passaria um fim de semana solitário. 

É claro que não podia beber, mas nada o impedia de se sentar a uma mesa com um refresco. Afinal de contas, não estava ele sóbrio há já seis meses? Talvez se pudesse permitir beber sem perigo, digamos, três copos - e nem mais um! O medo apoderou-se dele. A situação era perigosíssima. Era outra vez a velha e insidiosa loucura do primeiro copo. Com um arrepio, deu meia volta e dirigiu-se para onde estava a lista das igrejas. A música e a conversa alegre do bar ainda lhe chegavam aos ouvidos. 

Pensou nas suas responsabilidades - na sua família e em todos aqueles que morreriam sem saber que havia uma saída para a recuperação; sim, todos aqueles alcoólicos! Devia haver muitos naquela cidade. Telefonaria a um clérigo. Voltou-lhe a razão e deu graças a Deus. Escolheu uma igreja ao acaso na lista telefônica, entrou numa cabina e pegou no auscultador. 

A chamada ao clérigo conduziu-o a um habitante da cidade que, embora tivesse sido um homem competente e respeitado, estava então no auge do desespero alcoólico. Era a mesma situação de sempre: o lar ameaçado, a mulher doente, os filhos perturbados, contas por pagar e a reputação desfeita. Ele tinha uma vontade desesperada de deixar de beber, mas não via saída, pois tinha tentado seriamente muitas formas de escape. Dolorosamente consciente de que havia algo em si de anormal, o homem não compreendia inteiramente o que significava ser alcoólico. * 

Quando o nosso amigo lhe descreveu a sua experiência, ele concordou que, mesmo com toda a sua força de vontade, nunca tinha conseguido parar de beber por muito tempo. Admitiu que uma experiência espiritual era absolutamente necessária, mas o preço parecia--lhe muito elevado com base no que lhe era proposto. Contou como vivia numa aflição constante de que descobrissem o seu alcoolismo. Tinha naturalmente a obsessão, comum a muitos alcoólicos, de que só poucas pessoas sabiam do seu problema. Por que razão, argumentava ele, deveria perder o que lhe restava ainda do seu trabalho, só para afligir a família ainda mais, ao admitir estupidamente a sua grave condição a pessoas de quem dependia para ganhar a vida? Disse que faria tudo, mas isso não. 

Intrigado, contudo, convidou o nosso amigo para sua casa. Algum tempo depois, justamente quando estava convencido de que já dominava o seu problema de álcool, apanhou uma tremenda bebedeira. Para ele, foi a bebedeira que pôs fim a todas as bebedeiras. Percebeu que tinha de enfrentar honestamente os seus problemas para que Deus lhe concedesse ajuda.

Um dia, pegou o touro pelos cornos, e dispôs-se a dizer àqueles de quem tinha medo qual tinha sido o seu problema. Para sua surpresa, verificou que era bem aceite e que muitos estavam a par do seu alcoolismo. Pegou no carro e fez a ronda das pessoas a quem tinha prejudicado. Visitou-as uma a uma a tremer, porque isso poderia significar a sua ruína, muito em particular para uma pessoa com a sua profissão. 

À meia noite voltou para casa, exausto mas muito contente. Desde esse dia nunca mais voltou a beber. Como se verá mais adiante, este homem representa atualmente muito para a sua comunidade, e em quatro anos, reparou os maiores danos causados em trinta anos de alcoolismo. 

A vida porém não foi fácil para estes dois amigos. Defrontaram-se com muitos problemas. Aperceberam-se ambos de que tinham de se manter ativos espiritualmente. Um dia telefonaram para a enfermeira chefe de um hospital local. Explicaram-lhe o que precisavam e perguntaram-lhe se tinha um paciente alcoólico de primeira classe. 

"Sim", respondeu ela, "Temos um que é um caso muito sério. Acabou de bater numas enfermeiras. Fica completamente doido quando está a beber, mas é uma ótima pessoa quando está sóbrio, embora tenha cá estado oito vezes nos últimos seis meses. Parece que foi um advogado muito conhecido na cidade, mas neste momento está atado à cama". ** 

Tratava-se realmente de um candidato mas, pela descrição, não parecia muito prometedor. Nessa altura, a aplicação de princípios espirituais em tais casos não era tão bem aceite como é agora. Mas um dos amigos disse: "Ponha-o num quarto privado. Vamos vê-lo". 

Dois dias depois, o futuro membro dos Alcoólicos Anônimos olhava com um ar vidrado para os dois à beira da sua cama: "Quem são vocês e porque estou neste quarto privado? Estive sempre numa enfermaria". 

Um dos visitantes disse: "Viemos dar-lhe um tratamento para o alcoolismo". 

O desespero estava estampado na cara do homem ao dizer: "Oh! é inútil. Não há nada que me valha. Sou um homem perdido. As últimas três vezes, embebedei-me ao voltar para casa. Tenho medo de sair da porta. Não consigo compreender isto". 

Durante uma hora, os dois amigos contaram-lhe as suas experiências com o álcool. Repetidamente ele dizia: "Sou eu. Sou assim mesmo. Bebo tal e qual como vocês". 

Explicaram ao doente que ele sofria de uma intoxicação aguda, que degradava o organismo do alcoólico e lhe destorcia o espírito. Falou-se muito sobre o estado mental que antecede o primeiro copo. 

"Sim, sou tal e qual", disse o doente, "é o meu retrato. Vocês sabem realmente do que estão a falar, mas não vejo de que é que isso me pode servir. Vocês são pessoas de respeito. Eu também fui, mas agora já não sou nada. Pelo que me dizem, sei melhor do que nunca, que não consigo parar de beber". Ao ouvir isto, os dois visitantes desataram a rir. "Não vejo onde é que está a graça", disse o futuro membro dos Alcoólicos Anônimos. 

Os dois amigos falaram da sua experiência espiritual e explicaram--lhe o plano de ação que tinham posto em prática. 

Ele interrompeu-os: "Já fui um praticante muito convicto, mas neste caso, não me serviu de nada. Nas manhãs de ressaca rezava a Deus e jurava que nunca mais bebia uma gota de álcool, mas às nove da manhã já estava bêbedo que nem um cacho". 

No dia seguinte, encontramos o candidato mais receptivo. Tinha estado a pensar no caso. "Talvez vocês tenham razão," disse ele. "É possível que Deus consiga tudo". E acrescentou, "Apesar de Ele ter feito pouco por mim quando lutava sozinho contra o álcool". 

Ao terceiro dia, o advogado entregou a sua vida aos cuidados e orientação do seu Criador e declarou-se inteiramente disposto a fazer o que fosse preciso. A sua mulher foi vê-lo, mal se atrevendo a ter esperança, embora tivesse notado já alguma diferença no seu marido. Ele tinha começado a viver uma experiência espiritual. 

Nessa mesma tarde, ele vestiu-se e saiu do hospital convertido num homem livre. Tomou parte numa campanha política, fez discursos, frequentou centros de reunião de todos os gêneros, passando muitas vezes as noites em claro. Perdeu por pouco a eleição a que se candidatou e não foi eleito. Tinha porém encontrado Deus e, ao encontrar Deus, encontrou-se a si próprio. 

Isto foi em Junho de 1935. Nunca mais voltou a beber. Também ele se tornou um membro respeitado e útil na sua comunidade. Ele tem ajudado outros a recuperarem-se e desempenha um papel importante na igreja, da qual esteve afastado muito tempo. 

Assim, como se viu, havia naquela cidade três alcoólicos que sentiam que tinham de dar aos outros o que tinham encontrado, ou se afundariam de novo. Depois de vários fracassos para encontrar outros, apareceu o quarto. Veio por intermédio dum conhecido que tinha ouvido a boa notícia. Tratava-se de um jovem irresponsável, cujos pais não conseguiam perceber se ele queria ou não deixar de beber. Eram pessoas profundamente religiosas e muito abaladas pela obstinação do filho em não querer nada com a igreja. Sofria terrivelmente com as suas bebedeiras, mas parecia não se poder fazer nada por ele. Consentiu, no entanto, em ir para o hospital, onde lhe deram precisamente o mesmo quarto recentemente desocupado pelo advogado. 

Recebeu três visitantes. Ao fim de pouco tempo disse: "Faz sentido a maneira como vocês apresentam a questão espiritual. Estou pronto para pôr mãos à obra. Ao fim e ao cabo, acho que os meus velhotes tinham razão". E assim, se juntou mais um à Comunidade. 

Durante este tempo, o nosso amigo do incidente do hotel ficou nessa cidade mais três meses. Quando regressou a casa, deixou lá o seu primeiro conhecimento, o advogado e o jovem irresponsável. Estes homens tinham descoberto algo de completamente novo na vida. Embora soubessem que tinham de ajudar outros alcoólicos para eles próprios se manterem sóbrios, esse motivo em si mesmo tornou-se secundário. Era superado pela felicidade que descobriram em se darem aos outros. Eles partilhavam as suas casas, os seus escassos recursos e dedicavam de boa vontade as horas livres aos companheiros que sofriam. Dia e noite, estavam dispostos a levar um novo homem para o hospital e a visitá-lo em seguida. O número deles aumentou. Passaram por uns quantos fracassos dolorosos, mas nesses casos esforçavam-se por introduzir os familiares num modo de vida espiritual, trazendo deste modo conforto a muita inquietação e sofrimento. 

Passado ano e meio, estes três homens obtiveram êxito com mais sete. Como se viam frequentemente, era rara a noite em que não houvesse um pequeno grupo de homens e mulheres que se encontravam em casa de um deles, felizes pela sua libertação e sempre a pensarem como encontrar um meio de levar a sua descoberta a recém-chegados. Para além destes encontros informais, estabeleceu-se em breve o costume de se reservar uma noite por semana para uma reunião, a que poderiam assistir todos os interessados num modo de vida espiritual. Além da camaradagem e sociabilidade, o objetivo fundamental era o de proporcionar a ocasião e lugar para os novos interessados falarem dos seus problemas. 

Pessoas de fora começaram a interessar-se. Um homem e a sua mulher puseram a sua casa, que era grande, à disposição deste conjunto de pessoas tão estranhamente diverso. Este casal tornou-se desde então tão entusiasta com a idéia que dedicou a sua casa a esta obra. Muitas mulheres em estado de confusão vieram a esta casa para encontrar companhia carinhosa e compreensiva entre outras mulheres que conheciam o problema, para ouvir da boca dos maridos alcoólicos o que lhes tinha acontecido, para serem aconselhadas sobre a maneira como hospitalizar e tratar os seus obstinados maridos quando tropeçassem de novo. 

Muitos homens, ainda atordoados pela sua experiência no hospital, transpuseram o limiar dessa casa para a liberdade. Muitos alcoólicos que ali entraram, saíram com uma resposta. Eles ficavam rendidos perante essa gente alegre que ria das suas próprias desgraças e compreendia as deles. Impressionados por aqueles que os visitavam no hospital, capitulavam mais tarde por completo ao ouvirem num quarto dessa casa, a história dum homem, cuja experiência se assemelhava à deles. A expressão na cara das mulheres, esse algo indefinível no olhar dos homens, a atmosfera estimulante e eletrizante do lugar, conjugavam-se para lhes fazer perceber que tinham encontrado o seu abrigo.

O modo prático de abordar os problemas, a ausência de qualquer forma de intolerância, a informalidade, a genuína democracia, a fantástica compreensão dessas pessoas, eram irresistíveis. Eles e as suas mulheres saiam animados com a idéia do que poderiam agora fazer por um amigo doente e pela sua família. Sabiam que tinham um grande número de novos amigos e era como se conhecessem estes estranhos desde sempre. Tinham presenciado milagres e certamente que um milagre também lhes iria acontecer. Eles tinham-se apercebido da Grande Realidade: o seu Deus de Amor e Criador Todo Poderoso. 

Atualmente, esta casa já é pequena para os seus visitantes semanais, cujo número atinge em regra os sessenta ou oitenta. Os alcoólicos vêm de longe e de perto. Famílias percorrem longas distâncias, vindas de cidades vizinhas, para participarem nestas reuniões. Numa localidade situada a trinta milhas há quinze membros dos Alcoólicos Anônimos. Tratando-se de uma cidade grande, pensamos que um dia o número de membros será da ordem das centenas. *** 

Mas a vida entre os Alcoólicos Anônimos não se limita à participação em reuniões e a visitas a hospitais. No dia a dia, procura-se resolver questões antigas, ajudar a restabelecer divergências familiares, advogar filhos deserdados perante pais ainda furiosos, emprestar dinheiro e procurar emprego a membros, nos casos em que as circunstâncias o justifiquem. As boas-vindas e a cordialidade são extensivas a todos, por mais desacreditados que estejam ou por mais baixo que tenham caído - desde que a sua intenção seja séria. Distinções sociais, rivalidades e invejas triviais não se levam a sério e são motivo para rir. Como náufragos do mesmo navio, salvos e unidos por um mesmo Deus, com o coração e o espírito atentos ao bem-estar dos outros, as coisas que têm grande importância para outros, deixam de ter grande significado para eles. E como é que poderiam tê-lo? 

Em circunstâncias não muito diferentes, está a acontecer o mesmo em muitas cidades do Leste. Numa delas há um hospital muito conhecido para tratamento da adicção ao álcool e drogas. Há seis anos um dos nossos membros esteve lá internado. Muitos de nós sentimos, pela primeira vez, a Presença e o Poder de Deus dentro destas paredes. Temos uma grande dívida de gratidão para com o médico de serviço, porque pondo inclusivamente em risco o seu trabalho, expressou a sua confiança no nosso. 

Quase todos os dias, este médico sugere a um dos seus pacientes que receba a nossa visita. Como compreende o nosso trabalho, seleciona com intuição os que estão dispostos e prontos para recuperar numa base espiritual. Muitos de nós, que somos antigos pacientes desse hospital, vamos lá para dar ajuda. Para além disso, nesta mesma cidade do Leste, há reuniões informais, como as que descrevemos, e onde se podem agora ver dezenas de membros. Tal como acontece com os nossos amigos do Oeste, criam-se amizades com a mesma facilidade e encontra--se o mesmo espírito de ajuda mútua. Viaja-se muito entre Leste e Oeste, o que nos faz prever um grande crescimento com este útil intercâmbio. 

Esperamos que um dia todo o alcoólico em viagem possa encontrar um grupo de Alcoólicos Anônimos no seu destino. Até certo ponto isto já se tornou uma realidade. Alguns de nós somos vendedores e viajamos de um lado para o outro. Grupos de dois, três e cinco de nós surgiram noutros sítios através do contacto com os nossos dois maiores centros. Aqueles de nós que viajam visitam-nos com a maior frequência possível. Esta prática permite-nos ajudá-los e, ao mesmo tempo, evitar certas distrações sedutoras pelo caminho, que qualquer homem que viaje pode testemunhar. **** 

Assim crescemos e, você também pode "crescer", ainda que seja apenas com este livro para o ajudar. Acreditamos e temos esperança de que ele contenha tudo o que precisa para começar. 
Sabemos no que está a pensar. Diz para si mesmo: "Estou nervoso e sozinho. Eu não vou conseguir". Mas consegue. Esquece-se de que acaba de encontrar uma fonte de energia muito maior do que a sua própria. Com um tal recurso, conseguir o que nós conseguimos, é só uma questão de boa vontade, paciência e trabalho. 

Conhecemos um membro de A.A. que vive numa grande cidade. Estava lá apenas há umas semanas, quando descobriu que aí havia uma maior percentagem de alcoólicos do que em qualquer outra cidade do país. Isto passou-se apenas alguns dias antes de se escreverem estas palavras (1939). As autoridades mostravam-se apreensivas com o problema. Ele entrou em contacto com um eminente psiquiatra, que tinha assumido determinadas iniciativas para cuidar da saúde mental na comunidade. O médico era muito competente e mostrava-se extremamente interessado em adotar qualquer método de trabalho que tratasse o problema. Perguntou então ao nosso amigo o que ele tinha para oferecer. 

O nosso amigo descreveu-lhe o nosso método e o efeito foi tão positivo que o médico concordou em experimentá-lo nos seus pacientes e noutros alcoólicos de uma clínica onde trabalha. Foram igualmente tomadas disposições junto do psiquiatra chefe de um grande hospital público para escolher ainda outros casos que faziam parte do contínuo fluxo de miséria que passava regularmente por essa instituição. 

Deste modo o nosso diligente companheiro terá em breve muitos amigos. Alguns deles poderão cair para talvez nunca mais se levantarem, mas se a nossa experiência pode servir de critério, mais de metade dos que foram abordados tornar-se-ão membros dos Alcoólicos Anônimos. Quando uns quantos homens nesta cidade se tiverem encontrado a si próprios e descoberto a alegria de ajudar outros a enfrentarem de novo a vida, o processo não parará, enquanto todo o alcoólico dessa cidade não tiver a sua oportunidade de recuperação - se ele puder e quiser. 

"Mas", pode ainda dizer: "Não terei o benefício de entrar em contacto com os que escreveram este livro". Quem sabe! Só Deus pode decidir isso, de modo que tem de se lembrar que você depende realmente é Dele. Ele mostrar-lhe-á como criar o grupo de que tanto precisa. ***** 

É intenção do nosso livro oferecer apenas sugestões. Temos consciência do pouco que sabemos. Tanto a si como a nós, Deus fará constantemente revelações. Peça-Lhe na sua meditação da manhã o que pode fazer em cada dia por aquele que ainda sofre. 

As respostas virão se estiver tudo em ordem consigo próprio. Mas é óbvio que não pode transmitir aos outros aquilo que não tem. Empenhe-se para que a sua relação com Ele seja boa e acontecer-lhe-ão coisas extraordinárias a si e a muitos outros. Isto é para nós a Grande Realidade. 

Abandone-se a Deus como O concebe. Admita os seus erros perante Ele e perante os seus semelhantes. Limpe os destroços do passado. Dê livremente do que encontrar e junte-se a nós. Estaremos consigo na Comunidade do Espírito e, ao percorrer a Estrada de um Destino Feliz, encontrará seguramente alguns de nós.

Que Deus o abençoe e o guarde - até lá.



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