sábado, 22 de fevereiro de 2014

RAIVA – RESSENTIMENTO


A raiva é um sentimento doloroso, desconfortável, mas perfeitamente natural. Surge quando a verdade ou o nosso valor como seres humanos são negados. Se nosso companheiro ou companheira é desleal, nós nos sentimos com raiva e maltratados. Se somos jogados no olho da rua, temos raiva e nos sentimos abusados. Se na escola um grandalhão prevalece contra nós, ficamos com uma bruta raiva, porque já não há jeito de revidar. Sempre há uma razão para a raiva.

A palavra "ressentir" significa "sentir de novo". Assim, o ressentimento é um sentimento de raiva que fica ressurgindo sempre que a gente pensa nas pessoas que a causaram. Os ressentimentos atuais são estressantes e sempre causam infelicidade e dor.

Se alguém me tirava do sério, eu costumava ficar fervendo por dias e dias, incapaz de me desapegar. Alguém dizia qualquer coisa brincando, e isso tocava num nervo sensível, e a coisa toda se escalava na minha mente, afetando meu sono, meu trabalho e toda a minha paz de espírito.

Mas os piores ressentimentos de todos são os bem enraizados, que ficam fora de vista, mas que nos afetam de todas as maneiras, jogando uma sombra sobre nossas vidas, e muitas vezes estragando qualquer chance real de constituirmos um relacionamento feliz e duradouro.

Para a gente ser feliz, os ressentimentos enraizados precisam ir embora. Precisamos perdoar quem nos machucou, muitas vezes um dos nossos pais, de maneira total e completa, de modo que não mais ocupem lugar na nossa cabeça. Antigos ressentimentos vão se aprofundando e enrijecido com o passar dos anos. Quando parei com os comprimidos e fiz meu Quarto Passo, encontrei uma enorme bola de ódio contra meu pai, que eu jamais havia reconhecido antes, e foi uma agonia simplesmente olhar para ela e aceitar que estava ali.
  
Os medos andam de mãos dadas com os ressentimentos, e eu vivera toda a minha vida com medo. Precisei rezar para que meus medos e ressentimentos se fossem, e isso com o tempo aconteceu. Em relação a meu pai, o Nono Passo ajudou-me a perdoá-lo. Escrevi uma carta bem curta, dizendo que lamentava tê-lo culpado por tudo o que havia dado de errado na minha vida, e que nem fora realmente culpa dele, pois havia sido avariado pela guerra. E daí desejei-lhe paz e muita felicidade no céu.

Essa cartinha deve ser contada como a mais importante que jamais escrevi. Coisa estranha: quando cheguei ao fim, senti que um peso enorme havia sido retirado, e eu sabia que havia perdoado a meu pai e que Deus me havia perdoado também.
  
Ainda consigo ficar bravo quando a verdade é negada, ou quando sou tratado injustamente por outras pessoas. Mas a raiva passa logo. Não me apego mais a ela. Num mundo perfeito, é claro que não haveria necessidade para a raiva erguer sua horrenda cabeça, pois as pessoas distribuiriam amor e não diriam mentiras. Se temos raiva por dentro, não podemos amar. Para sermos felizes, precisamos amar.


Revista Vivência - Maio/Junho 2002

Meditação Diária Narcóticos Anônimos


Sábado, 22 de fevereiro de 2014.


A vontade de Deus não a minha

"Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente."

Passo Dez
Em Narcóticos Anônimos, descobrimos que, quanto mais vivemos em harmonia com a vontade do Poder Superior em relação a nós, maior a harmonia em nossas vidas. Utilizamos o Décimo Passo para nos ajudar a manter essa harmonia. Diariamente dedicamos um tempo para observar nosso comportamento. Alguns de nós avaliam cada ação com uma pergunta muito simples: “vontade de Deus ou a minha?”

Em muitos casos, descobrimos que nossas ações têm estado em sintonia com a vontade de nosso Poder Superior em relação a nós, e por nossa vez temos estado em sintonia com o mundo à nossa volta. Em alguns casos, entretanto, vamos descobrir inconsistências entre nosso comportamento e nossos valores. Estivemos agindo de acordo com nossa própria vontade, não com a de Deus, e o resultado tem sido dissonância em nossas vidas.

Quando descobrimos tais inconsistências, admitimos que estávamos errados e tomamos atitudes para corrigi-las. Com maior consciência daquilo que acreditamos ser a vontade de Deus em relação a nós em tais situações, estamos menos propensos a repetir essas ações. E estaremos mais aptos a viver em consonância com a vontade de nosso Poder Superior em relação a nós e em relação ao mundo à nossa volta.

Só por Hoj eu desejo viver em harmonia com meu mundo; Hoje, eu vou examinar minhas ações, perguntando: “Vontade de Deus ou a minha?”

NINGUÉM É ALCOÓLATRA PORQUE QUER



Alcoolismo não é um vício, é uma doença. É preciso que a gente perceba essa sutil diferença, porque ela acaba criando as maiores confusões. 

Vício é uma palavra que traz em si uma série de significações negativas, depreciativas e completamente injustas com pessoas que tiveram a infelicidade de sofrer a doença. Poderia ser diabetes, hipertensão, reumatismo, só que é alcoolismo. 

Se o vício, por um lado, recebe um aspecto correto do alcoolismo, que é a compulsão irresistível de beber, por outro estigmatiza o alcoólico como um fraco de caráter. Ora, convenhamos, não é nada disso. Ninguém se torna alcoólico porque quer, torna-se alcoólico simplesmente porque apesar de todos os mais sinceros e comoventes esforços, não consegue deixar de beber.

Poder-se-ia argumentar, então, por que começou a beber? Ora, quem aos 15 anos não começa a tomar seus chopinhos depois da praia, seu cuba-libre nas festinhas, sua caipirinha de vodka ou cachaça, seus vinhozinhos no natal? Se tiver mais grana, quem não tomará seu champanhe na passagem do ano? Seu uísque no baile? Quem iria adivinhar que, anos depois, se tornaria um alcoólico?

Deixemos, pois, de ser hipócritas e de sair pichando, estigmatizando os outros por suas dificuldades. Se o alcoólico bebe, não por falta de vergonha na cara. Bebe descontroladamente porque possui uma doença que pode acometer qualquer um: o alcoolismo. Aliás, falta de vergonha na cara, é sair por aí encontrando explicações 
fáceis e cômodas para problemas difíceis e incômodos. Você que está lendo esta coluna e eu que a estou escrevendo, que, moderadamente, entornamos socialmente nossas gostosas doses em ocasiões sociais, podemos, perfeitamente, sem percebermos, nos tornar amanhã escravos do álcool. Podemos perfeitamente padecer desta doença – o alcoolismo – e simplesmente não sabemos.

Se 87% de nós jamais beberão descontroladamente, 13% o farão. Tudo muito lotérico. É mais fácil se tornar alcoólico do que acertar no bicho. É infinitamente mais fácil do que acertar na quina da loto. Portanto, mais delicadeza no nosso julgamento não fará mal a ninguém. Inclusive a nós mesmos, pois quem com julgamentos apressados fere com julgamentos apressados poderá ser ferido.  

Revista Vivência nº 15 -  janeiro/março de 1991

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Meditação Diária, Narcóticos Anônimos


Autopiedade ou recuperação – a escolha é nossa

Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2014

"A autopiedade é um dos defeitos mais destrutivos; ela nos esgotará toda a energia positiva"

Na adicção ativa, muitos de nós usávamos a autopiedade como um mecanismo de auto sobrevivência. Não acreditávamos que havia uma alternativa para viver nossa doença – ou talvez não quiséssemos acreditar. À medida que podíamos sentir pena de nós mesmos e culpar mais alguém por nossos problemas, não tínhamos que aceitar as conseqüências de nossas ações; acreditando que éramos impotentes para mudar, não tínhamos que aceitar a necessidade de mudanças. Usando esse “mecanismo de sobrevivência”, nos mantínhamos afastados da recuperação e nos entregávamos, dia a dia, à autodestruição. Autopiedade é uma ferramenta de nossa doença; precisamos parar de usar e aprender a usar outras ferramentas que encontramos no Programa de NA.

Viemos a acreditar que a ajuda efetiva está disponível para nós, quando procuramos ajuda e encontramos no Programa de NA; então a autopiedade é substituída pela gratidão. Muitas ferramentas estão à nossa disposição: os Doze Passos, o apoio de nosso padrinho, o companheirismo de outros adictos em recuperação e a proteção de nosso Poder Superior. A disponibilidade dessas ferramentas é razão mais do que suficiente para sermos gratos. Não vivemos mais isolados, sem esperança; temos alguma ajuda a mão para podermos enfrentar qualquer coisa. A forma mais segura de estar agradecido é aproveitar a ajuda disponível para nós no Programa de NA e experimentar a melhora que a programação trará para nossas vidas.

Só por hoje eu serei grato pela esperança que NA me deu. Eu vou cultivar minha recuperação e parar de cultivar minha autopiedade.

A recuperação faz toda a diferença


Por João Alexandre Rodrigues

De acordo com as últimas investigações, através de imagens de ressonância magnética, sabemos que a adicção é uma doença do cérebro. Determinados comportamentos e/ou o abuso de substâncias psicoativas interferem e afetam a estrutura cerebral responsável pelo prazer, motivação, memoria (sistema de recompensa). Através dos comportamentos aditivos e abuso de substâncias psicoativas aditivas, provoca uma modificação dos circuitos neuronais e o aparecimento de sintomas físicos, psicológicos e espirituais no individuo através da procura e recompensa patológica do prazer e alivio imediato. Para que você perceba melhor, esta região do cérebro controla os movimentos do corpo[i]o  núcleo caudado (região do cérebro) situa-se na parte interna é muito primitiva e faz parte daquilo que se chama cérebro reptilário. Esta região do cérebro (sistema de recompensa) evoluiu muito antes dos mamíferos, há aproximadamente 65 milhões de anos. O núcleo caudado ajuda-nos a detectar e a aperceber de determinada recompensa, a selecionar entre recompensas, a preferir uma recompensa específica, a prever uma recompensa e a esperar uma recompensa.

Se você é um adicto/a toda a sua vida (família, trabalho, amizades, saúde, recursos financeiros, etc) gira em torno da recompensa adicção a comportamentos (jogo, compras, sexo, dependência emocional, distúrbio alimentar) e/ou a substâncias psicoativas lícitas, incluindo o álcool, e/ou ilícitas, geradoras de dependência e fica comprometido em termos das suas decisões (atitudes e comportamentos), por outras palavras; perde o controlo sobre as já referidas substâncias e/ou os comportamentos aditivos.

Áreas do cérebro afetadas pela adicção:
Recompensa (motivação)
Prazer
Motora (Aptidão psicomotora)
Humor
Memoria (processamento)
Sono
Cognição (défices cognitivos)

Considera que a sua adicção está a comprometer seriamente a sua qualidade de vida e a qualidade dos relacionamentos com pessoas significativas? Se estiver confuso/a em relação à resposta pode enviar um email para joaoalexx@sapo.pt e colocar as suas questões. Todos os dados são confidenciais (sigilo total).


[i] Referências bibliográficas: Schultz, 2000; Delgado e colegas, 2000; Elliot e colegas, 2003; Gold, 2003

Artigo de João Alexandre Rodrigues Conselheiro de Comportamentos Adictivos (Addiction Counselor - Art of Counseling) desde 1993. Conselheiro Certificado em Abuso de Drogas e Álcool. Formação em Inglaterra (Farm Place e Broadway Lodge) e EUA (Hazelden Foundation).

Crédito Recuperar das Dependências

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Sou Um Adicto?


Traducción de literatura aprobada por la Confraternidad de NA.
Copyright © 1991 by Narcotics Anonymous World Services, Inc.
Reservados todos los derechos

Sou um adicto?

Só você pode responder a esta pergunta.

Isto pode não ser fácil. Durante todo o tempo em que usamos drogas, quantas vezes dissemos “eu consigo controlar”. Mesmo que isto fosse verdade no princípio, não é mais agora. As drogas nos controlavam. Vivíamos para usar e usávamos para viver. Um adicto é simplesmente uma pessoa cuja vida é controlada pelas drogas.

Talvez você admita que tenha problema com drogas, mas não se considere um adicto. Todos nós temos idéias preconcebidas sobre o que é um adicto. Não há nada de vergonhoso em ser um adicto, desde que você comece a agir positivamente. Se você pode se identificar com nossos problemas talvez possa se identificar com a nossa solução. As perguntas que se seguem foram escritas por adictos em recuperação em Narcóticos Anônimos. Se você tem alguma dúvida quanto a ser ou não um adicto, dedique alguns momentos à leitura das perguntas abaixo e responda-as o mais honestamente possível.

Continue lendo e responda o questionário com honestidade

O que é a adicção?

QUADRO DE CUSTÓDIOS DO SERVIÇO MUNDIAL BOLETIM NO 17

O QUE É A ADICÇÃO?

O Quadro de Custódios do Serviço Mundial desenvolveu o texto "O que é Adicção?" durante o ano da conferência de 1988-1989. Posteriormente, ele foi amplamente utilizado por membros de NA, inclusive membros envolvidos com os esforços dos comités locais de tradução. A seguinte adaptação do boletim 17 foi fornecida durante o ano de conferência 1994-1995, dirigida às necessidades específicas desses comités. 

A tarefa de definir adicção tem desafiado médicos, juízes, padres, adictos, suas famílias e as pessoas em geral, por toda a história. Existem tantas definições potenciais quanto existem grupos com interesses em definir adicção. Essas definições enfatizam coisas tais como dependência fisiológica, dependência psicológica, dinâmica familiar, problemas comportamentais e moralidade. Esta lista poderia ser bastante incrementada, e NA poderia chegar com sua própria definição e acrescentá-la à lista. Felizmente, a Tradição Dez nos afasta de tais discussões públicas. Nitidamente, debater tais questões não é tarefa de NA. Nossa tarefa é levar a mensagem de recuperação para o adicto que ainda sofre. 

Ainda assim, definir adicção para nós mesmos é sem dúvida importante para o processo de recuperação. Afinal de contas, no Primeiro Passo admitimos impotência perante ela. Esta admissão é a fundação sobre a qual nossa recuperação é construída. Então a pergunta "O que é Adicção?" é, de fato, relevante; a irmandade tem a responsabilidade de considerá-la cuidadosamente. 

Este texto não incluirá uma redeclaração do entendimento mais amplo de nossa irmandade a respeito do que é adicção. Isto pode ser encontrado no Texto Básico, especialmente no capítulo "Quem é um adicto?". Em vez disso, focalizaremos em alguns assuntos difíceis que pediu-se ao Quadro de Custódios do Serviço Mundial que considerasse. 

A ADICÇÃO É UMA DOENÇA?

Esta é uma dessas perguntas sobre adicção que é difícil responder. Existe uma grande discussão pública sobre a questão da adicção ser ou não uma doença, e escolhemos não nos envolver nessa discussão. Entretanto, faz parte da compreensão e experiência colectiva da nossa irmandade que a adicção é, de fato, uma doença. Não temos razão para contestarmos essa percepção agora. Ela tem nos servido bem. 

A nossa experiência com a adicção é que, quando aceitamos que ela é uma doença sobre a qual somos impotentes, tal aceitação fornece uma base para a recuperação através dos Doze Passos. A quantidade de membros de NA vivendo livres da adicção ativa mostra que esta filosofia tem funcionado para nós. Então, embora como uma irmandade não estejamos em posição de argumentar o que é ou não uma doença, no estrito sentido médico, temos plena certeza de que é apropriada a utilização da palavra "doença" para descrever a nossa condição. 

Este é o ponto-chave: profissionais das áreas de medicina, religião, psiquiatria, legislação e direito penal definem adicção em termos que são apropriados para suas áreas de atuação. Nós também. Narcóticos Anónimos define adicção para o propósito de proporcionar recuperação. Tratamos adicção como uma doença, porque isso faz sentido para nós e funciona. Não temos necessidade de aprofundar este assunto mais do que isso.

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Meditação do Dia - Narcóticos Anônimos


QUINTA, 20 DE FEVEREIRO DE 2014

Impotência, responsabilidade pessoal
"Dada a nossa incapacidade para aceitarmos responsabilidades pessoais, criamos de fato os nossos próprios problemas." 
Texto Básico, p. 15 

Quando nos recusamos a ser responsáveis pelas nossas vidas, abdicamos de todo o nosso poder pessoal. Precisamos  lembrar que somos impotentes perante a nossa adicção, e não perante o nosso comportamento como pessoa. Muitos de nós utilizaram erradamente o conceito de impotência para evitarem tomar decisões ou para permanecerem ligados a coisas que já tinham deixado para trás. Temos reivindicado a impotência perante as nossas ações. Temos culpado os outros pela nossa situação, em vez de agirmos positivamente para modificá-la. Se continuarmos a evitar as responsabilidades alegando que somos "impotentes", estamos a caminhar em direção ao mesmo desespero e sofrimento que sentimos durante a nossa adicção ativa. As possibilidades de passarmos anos de recuperação a sentirmo-nos como vítimas são muito grandes. Em vez de vivermos as nossas vidas por defeito, podemos aprender a tomar decisões responsáveis e a arriscar. Podemos cometer erros, mas podemos também aprender com esses erros. Uma elevada consciência de nós próprios e uma crescente vontade de aceitar responsabilidades pessoais, dá-nos a liberdade para mudar, para escolher e para crescer. 

Só por hoje: os meus sentimentos, as minhas acções e escolhas, são meus. Vou aceitar a responsabilidade por eles.

Crédito: Narcóticos Anônimos - Região Portuguesa

Companheiros de adicção

Ele, médico, de família tradicional no estado em que residia. Estávamos próximos e sabia que, devido a facilidade que tinha com certos anestésicos, acabou se viciando em um derivado da morfina. Não sei qual era a substância que ele se auto-aplicava. Não quis saber quais eram os efeitos. Apenas o escutei. Ele partilhava o que sentia naquele instante, e o ar dele parecia distante. Era como se estivesse vendo o pai na imaginação.

Cheio de arrependimento ele me disse que era médico, filho de médico. Não entendia a razão de ter entrado no vício e pensava muito no pai. No desgosto... Porquê, Deus? Interrogava-se!

Meu pai é um homem tão bom e não merecia isso de mim, dizia. O pai, homem honrado, bom caráter, respeitado e acreditado, era seu herói. Ele, um escândalo abafado.

Bem conceituado lembrava o quanto seu pai se esmerou em dar a ele a melhor educação, o melhor em tudo, e ele estava carregado de culpa, remorso, arrependimento, vergonha, vendo-se com os mesmos olhos do meio social. O que causou aquele "escorregão" que lhe roubou a paz?  agora se via, ali, como um drogado, entre drogados, viciado em uma droga que causava forte dependência.

No final disse, como quem não queria aceitar:  "o que foi que aconteceu comigo? porque machuquei meu pai, logo ele, um homem bom tão honrado?"... Não tinha respostas. Elogiava a esposa!

Falou mais coisas e, no final, eu apenas disse que me identificava com tudo o que ele havia dito e fui além,
dizendo: - sinto o mesmo que você e mais que isso, pois joguei minha história de vida na lata do lixo!

Ele, a princípio, não partilhava, era mais um ouvinte. Escolheu tratar-se em outro estado para evitar comentários em sua terra, afinal, ele era um "escândalo", para os pouco instruídos. Abastado, era o único que tinha um quarto só para ele. 

Um outro companheiro, inteligentíssimo, cineasta, guardava uma mágoa decorrente de uma internação inteiramente descabida. Era apenas alcoólico, de família tradicional e pai ultra conservador. Vendo o filho embriagado, contratou uma equipe de resgate e jogou o mesmo em um manicômio. Um estranho naquele ninho. Conseguiu com parentes convencer o pai a retira-lo daquele hospício e encaminha-lo para uma clínica voluntária de boa reputação. Ele vai bem.

F, era uma garota que defendia a tese de que não era adicta, apenas uma pessoa que sofria de depressão e que acabou se viciando em vinho. Tinha argumentos...Fazia parte do meu grupo. Era coerente e se identificava comigo, pois conversávamos sobre a doença que tínhamos em comum. Não tenho mais informação alguma sobre ela, pessoa boníssima. 

Nesse mundo, em minhas passagens por vários lugares, conheci muitos variados tipos de caracteres humanos. Conheço muitas histórias de adictos. Dos pacíficos aos que chegaram a práticas violentas. Perdoei o louco que incendiou um local em que me encontrava pronto para dormir. Não sei mais de quase ninguém. Espero que todos estejam bem, gozando infinitas horas de sobriedade. 

Nós somos anônimos e vivemos da melhor forma que podemos. Mas carregamos o carimbo da adicção, exceto a bela F., que nunca aceitou a doença. Um pena que o destino nos tenha conduzido ao distanciamento. Que Deus, como cada um o concebe, nos guarde e proteja, pois não pedimos para sermos doentes. Aconteceu e agora é só nos resta andar de cabeça erguida, como anônimos, em uma sociedade tão desinformada... 



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Meditação Diária, Narcóticos Anônimos


Reservas

Quarta-feira, 19 de Fevereiro de 2014.

A recaída nunca é acidental. A recaída é um sinal de que temos reservas para com o nosso programa
Uma reserva é algo que colocamos de lado para uso futuro. Em nosso caso, uma reserva é a expectativa que, se isso ou aquilo acontecer, certamente recairemos. Que acontecimento esperamos que seja doloroso demais para suportar? Talvez pensemos que se, um esposo ou amante nos deixar, teremos que ficar alterados. Se perdermos nosso emprego, pensamos que certamente vamos usar. Ou talvez a morte de uma pessoa amada seja insuportável. Em qualquer caso, as reservas em que nos refugiamos nos dão permissão para usar quando se efetivam – o que freqüentemente acontece.

Podemos estar preparados para o êxito em vez de recaída, examinando nossas expectativas e alterando-as quando pudermos. A maioria de nós carrega consigo um catálogo de sofrimentos antecipados intimamente relacionados a nossos medos. Podemos aprender a como sobreviver à dor observando como outros membros superam dores semelhantes. Podemos aplicar suas lições para nossas próprias expectativas. Em vez de ficar dizendo a nós mesmos que teremos que ficar alterados se aquilo acontecer, calmamente reafirmaremos que também podemos ficar limpos, não importando o que a vida possa nos trazer hoje.

Só por hoje

Eu verificarei se tenho alguma reserva que possa colocar em risco minha recuperação e vou compartilhá-la com outro adicto.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O remédio é esquecer!

Faz um bocado de tempo que disse a um companheiro de alojamento que o remédio era esquecer, apagar tudo que se relacionasse com o processo da adicção da memória, mas é impossível deletar a memória. O que podemos fazer com ela e tentar retoca-la, reeditando-a. Eu gostaria de passar uma borracha nos bons e maus momentos da minha adicção ativa e, em certos momentos vividos em estado de recuperação. 
Alguém pode estranhar que eu diga que existiram momentos bons. Sim, existiram, não posso nega-los. Mas preciso apaga-los dos meus registros, preciso não lembrar que existiram. Já os maus momentos tendemos esquecê-los, naturalmente, devido ao processo seletivo... 

Também devo confessar que foram muito poucos os momentos felizes e que em minhas recordações quase não consigo vê-los, de tanto fixar-me nos maus momentos e esses maus momentos foram fruto de inúmeras insanidades, da repetição delas, da minha inconsequência. E, sem querer contemporizar comigo mesmo, um organismo intoxicado, não pode nos conduzir a bons pensamentos. Isso você vai dizer que é elementar, que é obvio, tudo bem. Compreendo isso tudo. Viver só por hoje requer que eu esqueça o passado, é um proposição que nem sempre sigo e reconheço que sempre pintam recordações, boas e más, alegres e tristes e que, muitas vezes sinto dificuldade em preencher este vazio que faz lembrar o que é importante esquecer. 

Falta-me muitas coisas. Hoje eu me sinto fortalecido, mas, quando verifico que certas lembranças afloram, eu me preocupo.

Olhe bem, não sou um cara que alguém possa dizer: "ele é fissurado". Ou, ele é obsessivo compulsivo. Quando desencontrado e, ainda sob efeito das drogas no organismo, mesmo estando limpo, me ocorriam certos impulsos e estes impulsos eram fruto de boas recordações. Durante o uso, eu era a própria loucura em ação. Agora, ninguém que me conheceu limpo vai poder dizer que a minha dependência era química. Eu, por mais que tivesse usado bastante, quando queria parar, parava e não sentia a menor falta. E só recaia por conta de outras razões, de futilidades, de certas carências afetivas. Quando em inicio do processo de abstinência eu não sentia porra nenhuma. Ocupava-me e pronto. O risco era exatamente lembrar o que deve ser esquecido e quando lembro é porque algo está me faltando. 

Atualmente vivo um momento bastante delicado e tenho que prosar com pessoas que eu, sem presunção alguma, acho que vivem em um mundo completamente diferente do meu mundo careta. Gosto de arte, de música, de cinema, rádio, televisão, de jornais, revistas e de conversar com pessoas que tenham um conteúdo que me acrescente algo. Não tenho AA, nem NA e vou dizer uma coisa, tenho preparo, tenho literatura de auto-ajuda das citadas irmandades. Mas existe algo que vai de encontro com minha personalidade. Não gosto de ser um cara "apaixonado" por AA, nem NA, gosto dessas irmandades dentro de um padrão de normalidade. 

Não quero viver como um sujeito catequizado, evangelizado, como um crente chato, que só fala de bíblia. Isso cria em mim um grande desconforto. Também sei que, embora com pessoas ao meu redor, me sinto só. Sou um ausente nesse meio e também um solitário, com um senso crítico aguçado e eu não quero me tornar num ser irônico, chato, pois tenho que compreender determinadas limitações, minhas e dos que me cercam. 

Minha terapia é ligar para uma filha e curtir o alto astral dela, os risos e as brincadeiras. Compartilho com ela e gosto. hoje não deu para conversar com ela. Chato. Sinto falta dela, mesmo quando ela liga, só pra me dar um alô. Isso é confortável e não existe mais em meu mundo outra pessoa senão ela. Leio e-mails de companheiros da AABR, mas não posto nada. Ler blog de codependentes me satisfaz, preenche-me, soma... 

No universo em que vivo há gente que tem um papo agradável, que tem conteúdo, mas são pessoas ocupadas e eu me tornei um desocupado que busca na internet baixar aplicativos para testes. Falta-me uma TV, a conexão que uso, atualmente, é muito lenta e lembra as antigas conexões discadas. Também falta um rabo de saia que goste de um bom papo. É salutar conversar com alguém do sexo oposto. O perfume de mulher já é algo que satisfaz e não preciso ir mais além, uma boa conversa me satisfaz e não tenho segundas intenções. 

Então, hoje, resolvi jogar conversa fora escrevendo essas coisas. Sinto falta daqueles papos acadêmicos, dos meios que frequentava e de estar sempre produzindo algo novo e escrevendo outras coisas mais dignificantes do que ficar falando em drogas. Hoje resolvi partilhar com qualquer anônimo. 

Mas eu supero esta fase. Quando estou determinado, creia, nada me derruba. Agora o lado risível deste texto são as interpretações. Nele existem sinais de recaída e isso é uma droga, porque um codependente lê e, então, passa a me patrulhar. Ao invés de ajudar, entra na sacanagem de pensar droga de drogas e isso é um pé no saco. Mas estou consciente desses efeitos colaterais. Codependentes são tão exatos, que posso advinha-los. São como bula de remédios. Ah, o remédio é esquecer e eles não entendem o que quero dizer, do começo ao fim. 



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Meditação Diária, Narcóticos Anônimos


Levando a mensagem, não o adicto

Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2014.

Pode ser analisado, aconselhado, persuadido, pode se rezar por ele, pode ser amarrado, surrado ou trancado, mas não irá parar até que queira parar.

Talvez uma das verdades mais difíceis de encarar em nossa recuperação seja: somos tão impotentes perante a adicção do outro, quanto somo em relação à nossa. Podemos pensar que por termos tido um despertar espiritual em nossas vidas, deveríamos ser capazes de persuadir o outro adicto a encontrar recuperação. Mas há limites Mas há limites no que podemos fazer para ajudar outro adicto.

Não podemos forçá-lo a parar de usar. Não podemos dar-lhe o resultado dos passos ou crescer por ele. Não podemos tirar-lhe sua solidão nem sua dor. Não há nada que possamos dizer para convencer um adito amedrontrado a trocar a miséria conhecida da adicção pela assustadora incerteza da recuperação. Não podemos entrar na pele de outra pessoa, mudar seus objetivos ou decidir o que é melhor para ela.

Entretanto, se nos recusamos a exercer este poder sobre a adicção dos outros, podemos ajudá-los. Eles podem crescer se permitirmos que encarem a realidade, não importa quanto ela possa ser dolorosa. Eles podem se tornar mais produtivos, à sua própria maneira, desde que não tentemos fazer por eles. Eles podem se tornar autoridades em suas próprias vidas, já que somos autoridades apenas em nossas próprias. Se aceitarmos tudo isso, poderemos fazer o que se deve – levar a mensagem, não o adicto.

Só por hoje Eu aceitarei que sou impotente não somente perante minha própria adicção, mas também perante a de qualquer outra pessoa. Levarei a mensagem, não o adicto.


CRÉDITO: NASP-RGSP 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

SER BOM PARA SI MESMO




Quando um ser amado ou um amigo querido está convalescendo de uma doença grave, nós geralmente tentamos dar-lhe o que as boas enfermeiras chamam A.T.C. (Atenção Tenra e Carinhosa). Mimamos uma criança doente, oferecendo-lhe os pratos favoritos e divertimentos para ajudar na recuperação.

A convalescença da doença do alcoolismo leva algum tempo, e qualquer pessoa que nela se encontre merece consideração e certa dose de A.T.C.

Em tempos idos, as pessoas geralmente acreditavam que aqueles que se estavam recuperando de certas enfermidades mereciam sofrer, pois se julgava que tinham deliberada e egoisticamente, infligido a doença em si mesmos.

Em virtude da culpa e do estigma ainda lançados sobre o alcoolismo por pessoas que ignoram a natureza da doença (inclusive nós próprios, antes de um bom aprendizado), muitos de nós não éramos muito bondosos conosco nas angústias de uma ressaca. Nós nos limitávamos a sofrer e achávamos que era necessário “pagar o pato” em justa penitência por nossas más ações.

Agora que sabemos que o alcoolismo não é um comportamento imoral, verificamos que é essencial reconsiderar nossas atitudes. Aprendemos que uma das pessoas menos dispostas a tratar o alcoólico como pessoa doente é, com surpresa, o próprio alcoólico. Uma vez mais nossa velha maneira de pensar ressurge inesperadamente.

Diz-se freqüentemente que nós, os bebedores problemas, somos perfeccionistas, impacientes com quaisquer defeitos, especialmente com os nossos. Fixando objetivos impossíveis para nós mesmos, ainda assim lutamos ferozmente para alcançar esses ideais inatingíveis.

Então, como nenhum humano jamais poderia manter os padrões extremamente elevados que exigimos de nós próprios, verificamos que falhamos como quaisquer pessoas cujos objetivos são irrealistas. E o desânimo e a depressão se instalam. Raivosamente nos castigamos por estarmos aquém da perfeição.

É precisamente aí que podemos começar a ser bons – pelo menos justos – conosco mesmos. Não exigiríamos de uma criança ou de qualquer pessoa relativamente incapacitada mais do que o razoável. Parece-nos que não temos direito de esperar tais milagres de nós mesmos, alcoólicos recuperados.

Ansiosos para estar completamente curados na terça-feira, encontramo-nos ainda convalescentes na quarta-feira e começamo-nos a nos culpar. Essa é uma boa hora de parar para pensar e examinar da maneira mais objetiva e desapaixonada que pudermos. Que faríamos se um ente querido ou um amigo muito caro se desencorajasse com a lenta recuperação e começasse a recusar a medicação?

Ajuda muito lembrar que o excesso de bebida é altamente prejudicial para o organismo, produzindo estados que podem requerer meses ou anos para superar. Ninguém se torna alcoólico em poucas semanas (isto é, quase ninguém). Da mesma forma, não podemos esperar recuperar-nos num passe de mágica.

Quando nos chega a sensação de desânimo, precisamos reanimar-nos. Mais de uns de nós acharam ótimo remédio congratular-se e felicitar-se pelo progresso feito – sem ficar presunçoso ou perigosamente egoísta com isso, é claro.

Façamos um levantamento. Abstivemo-nos de tomar um gole nestas 24 horas? Isto merece uma auto-aprovação honesta. Tivemos o cuidado de alimentar-nos bem hoje? Tentamos cumprir nossas obrigações hoje? Em resumo, fizemos o que pudemos, da melhor maneira possível hoje? Neste caso, isso é tudo que podemos, com justiça, esperar.

Talvez não possamos responder sim a todas essas perguntas. Talvez tenhamos fracassado em algum ponto, regredido um pouco em nosso pensar e agir, mesmo sabendo o que é melhor. E daí? Não somos criaturas perfeitas. Devemos estar satisfeitos com pequenos progressos, em vez de lamentar qualquer falta de perfeição.

O que podemos, neste momento, fazer para animar-nos? Qualquer coisa que não seja beber. Cada capítulo deste livro apresenta sugestões válidas.

Talvez, porém, haja outras. Estamos desfrutando da vida ultimamente? Ou temos estado tão preocupados em melhorar, mantendo o nariz tão perto do esmeril do auto-aperfeiçoamento, que deixamos de apreciar devidamente um pôr-do-sol, uma noite de luar, uma boa comida, uma pausa nos cuidados da vida, uma boa piada, a afeição?

Uma vez que o próprio organismo procura normalizar-se, talvez o seu lhe agradeça as oportunidades de repouso necessário. Goze ao máximo de reconfortantes sonecas ou de longas noites de sono tranquilo. Ou, quem sabe, você tenha energia de sobra para usar em pura distração e divertimento. Tanto como os demais aspectos da vida, estes parecem necessários para preencher todo o nosso potencial humano.

Este é o momento, o único que existe. E, se não formos bons conosco mesmo, certamente não poderemos esperar, com justiça, o respeito e a consideração dos outros.

Comprovamos que podemos aproveitar, sóbrios, de todas as coisas boas que apreciávamos quando bebíamos – e muitas, muitas mais. Requer um pouco de prática, mas o prêmio supera em muito o esforço despendido. Fazer isto não é algo egoístico, mas auto-protetor. A menos que tratemos carinhosamente a nossa sobriedade, não podemos sobreviver para virmos a ser pessoas altruístas, dignas e socialmente responsáveis.

Livro Viver Sóbrio.

Instintos descontrolados



NA OPINIÃO DO BILL 
282

Toda vez que uma pessoa impõe seus instintos irracionalmente aos outros, vem a infelicidade. Se a busca da riqueza pisa naqueles que venham a estar no caminho, então a raiva, a inveja e a vingança serão igualmente despertadas. Se o sexo se desenfreia, há um tumulto semelhante.

Exigir de outras pessoas excessiva atenção, proteção e amor só pode despertar o domínio ou a revolta nos próprios protetores – duas emoções tão doentias quanto às exigências que as provocam. Quando o desejo de prestígio de um indivíduo se descontrola, seja num grupo de mulheres costurando ou numa conferência internacional, outras pessoas sofrem e muitas vezes se revoltam. Esse choque de instintos pode produzir, tanto uma leve descortesia quanto uma grande revolta.

Os Doze Passos, pág. 35

Entendimento e Compreensão

Acredito em muitas coisas de cunho científico. Acredito em muitas coisas que se encontram escritas em post do Blog Amando Um Dependente Químico. A autora possui uma linha de argumentação respeitável. 

Leio, em outros blogs e sites, tantas coisas disparatadas a respeito de drogas, uso e abuso, que não passam de meras reproduções copistas e/ou propagandas subliminares, carregadas de mentiras. Enquanto  pessoas extremamente radicais, continuarem mentindo a respeito das verdades cientificas, só conseguirão desinformar, além de fortalecer o que desejam combater. Extremistas precisam de luz, de menos ódio e mais compreensão. Pensar com ódio prejudica o raciocínio. Verifico muita coisa boa que muita gente escreve e por falarem a verdade, são proscritos. Gosto do blog que visitei por conta da honestidade da autora.

Creio que mudei muito minhas opiniões, depois de ter vivido do outro lado da margem que a sociedade nos impõe como norma de boa convivência e que podemos chamar de mundo da lei. Sabe, seria muito bom tratar esta questão no âmbito da antropologia, com uma visão sociológica, sem os frequentes juízos de valor que impregna o chamado "mundo legal", com suas contradições. A favela, por exemplo é tratada como um "tumor", pela sociedade. A favela vê este "tumor" na sociedade excludente. Respeito todos os seres humanos, sou favorável ao pacto pela vida, sou contra a violência, não importa de onde ela parta. 

Devo reconhecer, contudo, que o ser social, caso não seja tratado como um cidadão, mantendo-o longe da escola, sem saúde, sem instrução, sem nada, será um ser movido pelos instintos animalescos e selvagens, pois também somos animais, uns domesticados, outros não. É sempre bom lembrar que somos parte do mundo animal. Como diz o poeta: "quem vive no meio de feras, sente a inevitável vontade de ser fera também". Mas não vou divagar sobre estas coisas que tocam em feridas que a sociedade "legal" teima em não querer tratar. Então deixo essa minha ressalva, de passagem.

Bem, vamos nos fixar no blog acima referido. A  autora não acredita em conselhos, diria certos conselhos, mas em troca de experiência. Isso é muito bom porque reflete que a autora possui mente aberta. Ótimo! 

Bem, vou tentar pensar em algo que ela postou e tentar rememorar coisas pelas quais já passei. Faço isso à título de reflexão. Porque o mundo mudou muito e penso como um adicto limpo.

Então lá está escrito: 

"Acredito que estabelecer limites para nós mesmos, como: “não aceito uso de drogas dentro de casa”, “não convivo com um adicto na ativa”, “não acordo à noite para abrir a porta para ele”, 
“não saio de casa para busca-lo na rua”, "não me permito sofrer agressões físicas ou verbais" é muito benéfico para ambos."

Creio que cada adicto tem suas particularidades, seu nível de instrução e educação, sua índole, seus caracteres, algumas vezes afetados pelo uso continuado, fome, exaustão e etc. Pessoas possuem "cabeças" diferentes, formações e informações, também. 

O mito do adicto agressivo, comigo não cola. Já estive pra lá de Bagdad e, sustentado pela droga, sem dormir, faminto, sedento, com a cabeça impregnada de vários tipos de drogas, estropiado, fodido, sem grana e sem querer voltar para casa com receio de ser apanhado e levado para  o que, por minha experiência, chamo de centro de detenção. Não sou agressivo. O meu record em ficar desse modo foi de 7 dias e não sei como não morri. Entrava nas favelas e nelas me enfurnava. Tinha medo de tudo. Era desconfiado. Aprendi a distinguir fogos de artifícios, de detonações de tiros. Aprendi muito com o terror dos tiroteios. Algo que me parecia surrealista, mas era tudo muito real. Cometi erros por estar fora de casa, fui imprudente. Poderia ter evitado tudo isso. 

Negociar e facilitar são palavras que merecem reflexão. Estabelecer limites, também. Manter o respeito, sem discussão. Penso que muitas coisas que fiz poderiam me conduzir ao rumo da recuperação e, exatamente por falta de bom senso, vivi sob risco de vida sempre que caia no mundão. Perdia dinheiro, ia para lugares estranhos, com pessoas estranhas e corria toda sorte de risco. Se, por exemplo, eu usasse a droga dentro de casa me sentiria bem melhor, pois estaria como peixe dentro d´água. Evidente que o uso teria que ser limitado. O problema estaria no "speed".

Quando cheirava muito vem aquela inquietação de sair por ai e andar e andar e andar. Então a dosagem teria que ser negociada. Conheci algumas garotas que gostavam de usar e que diziam gostar de mim. Não era verdade. Então elas, vendo o meu estado "elevadíssimo", passavam a querer me controlar. Falavam que não me deixariam continuar em determinado rítimo de uso e me propunham aplicar doses que diziam terapêuticas e eu acabei aceitando e algumas vezes me insubordinando, sem agressividade. 

Não sei, mas acredito que elas estavam certas com as doses terapêuticas, o que me impacientava, mas não me descontrolava, era o incomodo da espera, o espaço de tempo entre uma dose a outra. Devo dizer que conheci muita gente boa, mas era inevitável ser trapaceado. E as garotas? A regra é "acabou o dinheiro, acabou o amor". Não era amor, evidentemente. Mas havia cuidado, também.

Ninguém sabe o que vivi e não estou aqui para esmiuçar a minha vida, mas vivi perigosamente e o mundo da favela me protegia, sem que eu fosse um bandido. Por muitas ocasiões achava que muita gente tinha pena de mim e isso me envergonhava. Nem mesmo sair de um barraco para circular na favela eu queria sair, porque sentia vergonha de mim mesmo. Também achava que até as viaturas policias, que passavam por mim, tinham pena. Doideira! Mas sei que também tinha gente querendo minha pele para tamborim. Porquê, nunca soube e nunca procurei saber. Erro de pessoa, é possível. É um mundo de muitas paranoias.

Esse mundo de drogas é muito confuso para um usuário. Ainda, tem as políticas de facções, que nunca quis entender porque era usuário e nada mais. Se alguém viesse querer falar algo além do que eu julgava que devia, posto que não queria saber de outras coisas, salvo usar, pedia para mudar de assunto. 

Tinha medo de dormir, de tomar banho. O cara não perde o desejo sexual, mas fica sem tesão e isso me livrou, certamente, de contrair doenças. Sei que perdi bons pedaços de mal caminho, mas, olhando sob uma outra ótica, foi melhor que fosse assim. Muita gente morreu... 

Existem momentos em que extasiado, depauperado, fodido, em todos os aspectos, joguei a toalha e pedi ajuda e como resposta o que ouvi era uma espécie de "VÁ SE FODER", "FODA-SE", "SE VIRE", "PEGUE UM TÁXI", "DEVE? PROBLEMA SEU", "MORRA". Vem o sentimento de revolta, fruto da rejeição e o cara fica pior. Como fica pior após cada internação involuntária, dessas que não tem nada a ver com imposições judiciais.

Andei por ai andei, de favela em favela. Andei longas distâncias, quase sem me aguentar de tanto andar, com fome e sede. Andei com o pé esfolado, pisando em pedras. Sinceramente, não sei como estou vivo. Mascarados de brucutu queriam minha cabeça e eu me apavorava. Fui defendido. Sobrevivi. Mas ninguém dizia uma só palavra sobre o ocorrido e eu sempre fiquei sem nada entender. É melhor assim, tem coisas que é melhor não querer entender.

Então eu creio que nem tanto, nem tão pouco. Algumas vezes - de ambos os lados - alguém deve abrir um, ou mais de um, precedente, para evitar coisas semelhantes àquelas que passei, porque ninguém merece. Eu não dava notícias minhas. Não telefonava porque todo mundo tem bina no celular. Eu não gostava mais de celular. Então não me comunicava. Não queria deixar pista, nem minha localização. É complicado esse "mundão". 

Vou finalizar dizendo que creio que deve haver flexibilidade. Esses radicalismos de codependentes acabam fodendo a vida do adicto. Há que haver um minimo de compreensão, um meio termo, pelo menos experimental. Foi em um momento desses que fui convencido em me ajudar a sair do vício

Bem, não escrevi tudo o que gostaria, nem argumentei do modo que deveria argumentar. No mundo da adicção, as regras não devem ser muito fixas, os codependentes precisam entender que é  bem melhor ter o seu familiar dentro de casa, com respeito, regras e disciplina (isso pode até resultar em um bom acordo para que as dosagens comecem a cair até chegar ao nível zero da abstinência e, evidentemente, começar um tratamento, com acompanhamento especializado) do que jogado pelas ruas. Só Deus sabe como a vida lá fora. O sistema é mesmo bruto!

Vou finalizando por aqui, escrevo e nem paro para ler o que escrevi. Só quero que me leiam como se estivessem ouvindo alguém falando serenamente, posto que é dessa maneira que penso e me exponho através da escrita e não há, aqui, neste texto, qualquer ironia, zanga, rancor, nada contra ninguém. 

Só penso nas situações que vivi e nos extremos a que cheguei, sem apoio algum de parte de familiares, na fase crônica. Os que mais me defendiam eram meus pais e ninguém poupava eles. A grosseria contra eles, que são longevos, é algo imperdoável. Covardia e desrespeito contra idosos, não! Até podem racionalizar me acusando, para reverter este quadro insano, dos ditos normais.

Adictos e codependentes vivem comprimidos entre retas paralelas. Um de um lado, outro do outro e a região central é a região, onde ainda é possível dialogar. Mas esta região central representa muito mais o vazio entre seres adoecidos; são como fronteiras imaginárias. O centro seria a zona de conversação, da busca do entendimento, mas existem essas margens paralelas, que separam uns dos outros, como cercas que separam quintais, e o trem da vida quando passa sobre os trilhos, põe cada qual no seu devido lugar. Tudo é imaginário e a vida continua, com a cegueira da audição e as contumazes deformações de sentidos e interpretações de problemas. Não existe espaço para cantos de ossanha; auto-afirmação é a negação do que se busca afirmar, com ênfase...

Mas, finalmente, há limites para tudo. Hoje entendo muita coisa, embora outras tantas se mantenham sob forte cerração. 


Reflexões Diárias de Alcoólicos Anônimos

COMPROMISSO

Domingo, 16 fevereiro de 2014

A compreensão é a chave que abre a porta dos princípios e atitudes certas, e a ação correta é a chave do bem viver.
OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES.
 p.112

Chegou um momento no meu programa de recuperação em que a terceira parte da Oração da Serenidade: “A sabedoria para distinguir a diferença” – tornou-se impressa indelevelmente na minha mente. Desde aquele momento, tive que enfrentar-me com a consciência de que todas as minhas ações, todas minhas palavras e todos meus pensamentos estavam dentro ou fora dos princípios do programa. 

Não podia mais me ocultar atrás da auto-racionalização, nem atrás da insanidade de minha doença. A única linha de ação aberta, se eu quisesse conseguir uma vida alegre para mim (e também para aqueles a quem amo), seria aquela na qual impusesse a mim mesmo um esforço de compromisso, disciplina e responsabilidade.
______

Meditação do dia:
“Tal sabedoria se refere à habilidade de discernir quais coisas que não podemos modificar e quais as que podemos. Ela nos leva a aceitar os aspectos não negociáveis da vida e também nos dá coragem para agir quando e como devemos. Uma sabedoria desse tipo é eminentemente prática, por informar as decisões a serem tomadas na vida diária.”
(Oração da Serenidade – Philip St. Romain – p.34 – Verus editora)

Crédito: Carmo-Sion de Alcoólicos Anônimos

Meditação Diária - Narcóticos Anônimos

Sentimento de fé
Domingo, 16 de fevereiro de 2014


"Quando nos recusamos a aceitar a realidade do hoje, estamos negando nossa fé em nosso Poder Superior. Isto só pode trazer mais sofrimento."

Alguns dias simplesmente não são de maneira que desejávamos que fossem. Nossos problemas podem ser tão simples quanto um cordão de sapato arrebentado ou uma fila de supermercado. Ou podermos vivenciar algo muito mais sério. Como a perda de um emprego, de um lar ou de uma pessoa amada. De qualquer forma, frequentemente acabamos procurando uma maneira de evitar nossos sentimentos, em vez de simplesmente admitir que aqueles sentimentos são dolorosos.

Ninguém nos promete que tudo será de nossa maneira quando paramos de usar. O fato é que podemos ter certeza de que a vida vai seguir seu curso, estejamos usando ou não. Vamos encarar dias bons e dias ruins, sentimentos confortáveis e sentimentos dolorosos. Mas não precisamos mais fugir de nenhum deles.

Podemos sentir dor, mágoa, tristeza, raiva, frustração – todos esses sentimentos que evitávamos com drogas. Descobrimos que podemos passar por essas emoções limpos. Não vamos morrer e o mundo não vai acabar só porque temos sentimentos desagradáveis. Aprendemos a confiar que podemos sobreviver ao que cada dia nos traz.

Só por Hoje: Eu demonstrarei minha confiança em Deus vivenciando este dia exatamente como ele é.

Crédito: CSA-SP

Onde anda você?


Estava relembrando meus bons tempos, em uma época que a nação brasileira mergulhou nas trevas. Esses bons tempos existiram apesar dos pesares. Veraneávamos, passeávamos, íamos juntos aos cinemas e, também, tínhamos muitas brigas. Ela era, dos irmãos, a melhor informada, era minha protetora e defensora. Hoje ela parece estar brigada comigo, sem que eu saiba o motivo. Pouco importa, não briguei com ela! Minha amizade por ela e por meus irmãos, a despeito do meu estágio no mundo da adicção, não está marcada por nenhuma cicatriz. Evidente que ocorreram ranhuras. 
Eu sempre fui um cara de falar as coisas pela frente e, quem sabe, devo ter deixado algumas feridas expostas na alma dela. Se deixei, que ela me desculpe e perdoe. Faço publicamente esta reparação que se estende aos demais irmãos, mulher e filhos. 

Hoje lembrei dela e do tempo em que cursávamos francês, na  "La Maison Française", de nossa cidade natal, que ainda guarda um certo ar provinciano. 

O idioma francês, naquela época, dos anos 60, estava em declínio. O processo de aculturação ianque estava a todo vapor e, muita gente debochava do idioma que estávamos iniciando a aprender. Aprendemos muitas coisas, mas não tínhamos algo que era fundamental, gente para conversarmos em francês. Faltava-nos conversação...

Nosso pai, também fez um esforço grande em nos legar a aprendizagem do idioma inglês e francês. O inglês era mais fácil de encontrar com quem trocar algumas palavras. Depois me desencantei com o idioma, que representava a língua oficial do imperialismo norte-americano. Então a minha aprendizagem sofreu uma regressão. 

Ela parece continuar estudando línguas, porque vive viajando pelo mundo, enquanto eu me perdi pela vida, mas essa minha "perdição" era uma busca, uma procura por mim mesmo, acho que buscava me encontrar. Ela é uma pequeno burguesa, como eu, só que eu sou consciente disso e muita gente não gosta de ser chamado de pequeno-burgues. Será que ela se chateia ?!

Tenho boas recordações dela e, hoje, nós não nos vimos mais, não trocamos e-mails... Gosto de lembrar das nossas inspirações poéticas,enquanto caminhávamos, de como era verde o nosso vale, hoje tão diferente; do Consulado Espanhol, da Escola Pan-Americana, da cantina e do baleiro da Casa da França. 
Hoje posso afiançar que mudei muito e mudei para melhor, embora ainda tenha em mim uma porção de coisas que preciso expurgar e outras tantas reeditar.

Devo deixar patente que amo toda a minha família que considero muito bonita, não apenas no aspecto "nuclear" da família, mas no sentido mais vasto da palavra, que inclui os que já partiram desta vida para outra, de toda parentela, sem distinção alguma. 

Sei, entretanto, que "famílias" são muito cheia de juízos de valores, principalmente no que tange a moral e a adicção para boa parte da parentela pode soar como algo profundamente nebuloso e até vergonhoso, mas cada cabeça é um mundo e em cada mundo residem sentenças diferentes. Sou um cara de mente aberta e não tenho qualquer receio de escancarar as páginas do livro da minha vida, tão devassada. Mas o livro real, não o imaginário, são muito diferentes. No imaginário tem tanto blá-blá-blá, tanta falsificação, tanta loucura, que me deixa meio pasmo e apreensivo, ao mesmo tempo tem um lado cômico, porque existem mentiras que são risíveis.

Não quero contudo me aprofundar nestas coisas chatas. O que quero mesmo transmitir são as minhas saudades, dentro do todo cinza que há em mim, em certos momentos. Aprendi a ser como um "Severino", dentre tantos "Severinos", do João Cabral e, ao mesmo tempo um  "José" Drumondiano, nessa divina comédia humana, que mescla Dante com Balzac,  numa versão ligeiramente adaptada, para o  "Elogio da Loucura" de Roterdã. Vai dizer que não entendeu? Então tá. Isso não muda o meu amor por vocês!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Salmo 91 e fé em Deus, pois ele está no Comando!

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, 
à sombra do Onipotente descansará.
Direi do Senhor: 
Ele é o meu Deus, 
o meu refúgio, 
a minha fortaleza, 
e nele confiarei.
Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa.
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; 
a sua verdade será o teu escudo e broquel.
Não terás medo do terror de noite
 nem da seta que voa de dia,.
Nem da peste que anda na escuridão, 
nem da mortandade que assola ao meio-dia.
Mil cairão ao teu lado, 
e dez mil à tua direita,
 mas não chegará a ti.
Somente com os teus olhos contemplarás,
e verás a recompensa dos ímpios.
Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio. 
No Altíssimo fizeste a tua habitação.
Nenhum mal te sucederá, 
nem praga alguma chegará à tua tenda.
Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, 
para te guardarem em todos os teus caminhos.
Eles te sustentarão nas suas mãos, 
para que não tropeces com o teu pé em pedra.
Pisarás o leão e a cobra; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.
Porquanto tão encarecidamente me amou, 
também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, 
porque conheceu o meu nome.
Ele me invocará, e eu lhe responderei; 
estarei com ele na angústia; 
dela o retirarei, e o glorificarei.
Fartá-lo-ei com longura de dias, 
e lhe mostrarei a minha salvação.

Salmos 91:1-16

Oração ao Santo Guerreiro

Durante muito tempo esta era uma das orações que eu invocava e, pelo breu da madrugada, pelas becos e vielas das quebradas, pelos caminhos tortuosos eu seguia na fé. Nunca se sabe qual a trajetória de uma bala, do policial, ou do que convencionamos chamar de bandidos. São Jorge, meu Santo Guerreiro, era mais um dos meus protetores. Esta oração foi musicada por Jorge Benjor. Gosto de estar espiritualmente vestido e armado com as armas de São Jorge. Recomendo aos familiares de qualquer adicto que se encontre, neste momento, nas garras da adicção ativa, que ore por ele, mas ore com fé. Só por hoje andarei vestido com as armas de JORGE.


Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge
 para que meus inimigos, 
tendo pés não me alcancem, 
tendo mãos não me peguem, 
tendo olhos não me vejam, 
e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. 
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, 
facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, 
cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar. 
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, 
Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino,
 protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, 
e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, 
seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos. 
Glorioso São Jorge, em nome de Deus, 
estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, 
defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, 
e que debaixo das patas de seu fiel ginete 
meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. 
Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo. 
São Jorge Rogai por Nós.      

Meditação Diária ´- Narcóticos Anônimos


Sábado, 15 de Fevereiro de 2014

Um despertar espiritual

"A última coisa que esperávamos era um despertar espiritual"

Poucos de nós vieram à primeira reunião de Narcóticos Anônimos ansiosos por fazer um inventário pessoal ou acreditando que existia um vazio espiritual em suas almas. Não suspeitávamos que estávamos prestes a embarcar numa viagem que iria desertar nossos espíritos adormecidos.

Como um despertador barulhento, o Primeiro Passo nos traz para a semiconsciência – embora neste ponto possamos não ter certeza se queremos levantar da cama ou dormir por mais cinco minutos. Uma sacudida carinhosa em nossos ombros, ao aplicar o Segundo Passo e o Terceiro Passos, nos faz levantar, espreguiçar e bocejar. Precisamos limpar o sono de nossos olhos para escrever o quarto Passo e partilhar o Quinto. Mas, ao trabalhar o Sexto, Sétimo, Oitavo e Nono Passos, começamos a notar um impulso em nosso andar e um sorriso em nossos lábios. Nossas almas cantam np chuveiro ao fazermos o Décimo e Décimo-Primeiro Passos. E então praticamos o Décimo-Segundo, saindo de casa em busca de outros para despertar.

Não temos que passar o resto de nossas vidas em um coma espiritual. Podemos não gostar de levantar pela manhã, mas, uma vez fora da cama, quase sempre estamos felizes por tê-lo feito.

Só por hoje para despertar minha alma adormecida, eu usarei os Doze Passos.

Crédito: http://www.nasp.org.br/meditacao-diaria

Drogas e os riscos da abstinência


Uma primeira autópsia no corpo de Amy Winehouse, cantora britânica falecida em julho deste ano, terminou inconclusiva, sem apontar as causas da morte. Mas uma hipótese levantada por parentes é de que ela teria sido vítima de uma crise de abstinência. A falta de drogas, depois de um longo período de excessos, poderia ter contribuído para o falecimento de Amy, que segundo seus familiares, não bebia há três semanas.

“A privação da substância ao dependente químico pode provocar uma série de reações físicas e psicológicas que resultam em grande mal-estar, o que se denomina crise de abstinência”, define o psiquiatra e coordenador do ambulatório de dependência química do Hospital das Clínicas, Valdir Ribeiro Campos.

Assim como o tempo e as chances de sucesso de um tratamento, os sintomas de abstinência variam de acordo com os pacientes e as drogas usadas.

A abstinência alcoólica, por exemplo, caracteriza-se por perda de sono, sintomas depressivos, tremores, náuseas, vômitos e dificuldade de alimentação. Pacientes graves podem apresentar convulsão e sensação de perseguição. “Cerca de 10% dos casos podem evoluir para um caso gravíssimo na medicina e que requer tratamento de urgência – o chamado delirium tremens – caracterizado por confusão mental, alucinações e febre”, alerta o médico. Esses sintomas duram entre uma e duas semanas.

No caso do crack, a abstinência dura cerca de dez semanas. Segundo o coordenador do ambulatório do HC, nos quatro primeiros dias o paciente se sente cansado e desestimulado, come muito e sofre alterações de humor. “Existe grande tendência de o dependente voltar a usar a droga caso a abstinência não seja tratada corretamente. Sem a medicação os sintomas continuam e, comumente, levam a um quadro de depressão, alterações no padrão de sono e desestímulo.” Na décima semana, aponta o médico, esses sintomas começam a desaparecer e o organismo começa a se recuperar.

No caso de drogas como maconha e LSD, a privação da substância resulta em “desestímulo e desinteresse, semelhante a um quadro depressivo”.

Abstinência pode levar à morte?

“Indiretamente sim”, responde Valdir Ribeiro Campos. De acordo com ele, no caso do dependente de crack, caso a abstinência não seja tratada corretamente, o usuário pode entrar em um ciclo que poderá resultar em desnutrição, desidratação, falência cardíaca, infarto agudo do miocárdio, derrame ou acidente vascular cerebral, por exemplo. Em alcoólatras podem acontecer picos hipertensivos, AVC ou convulsões.
“Essas complicações, típicas de abstinências gravíssimas, podem ser causadoras de morte”, completa.

Tratamento

O tratamento de usuários químicos em abstinência baseia-se em três pilares: motivação para largar a droga, desintoxicação – que é o tratamento propriamente dito – e ressocialização.

“Além da parte orgânica do tratamento, feita por meio de medicamentos capazes de diminuir os sintomas e auxiliar o paciente a suportar essas alterações, é muito importante o tratamento psicológico, de abordagem multiprofissional, visando recuperar as diversas áreas da vida afetadas pelo uso de droga”, esclarece Valdir.
Abandonar a droga sem ajuda médica é possível, mas muito difícil. É comum que o usuário não suporte e tenha recaídas, diz o médico. Ele destaca que o papel da família também é muito importante, no sentido de motivar a mudança de comportamento do paciente.


Atualizada em 08 de setembro de 2011
Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG
jornalismo@medicina.ufmg.br
Crédito http://www.medicina.ufmg.br/noticias/?p=22469

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

No final, quem tinha razão?

Ontem, 13/02/2014, tomei conhecimento de que uma determinada "clínica", que denunciei por uma série de razões, foi exemplarmente punida, com a interdição total do estabelecimento e remoção de internos.  

Fui levado a tal estabelecimento prisional enganado, imaginando que estava indo para uma clínica voluntária. Aquele lugar era um alçapão, um caçuá, um centro de confinamento e detenção de adictos, totalmente indefesos.

Como os familiares são catequizados em acreditar que tudo que adicto diz é mentira, quando acareados e confrontadas com os donos destes cativeiros, o adicto "problemático" , acaba desacreditado, vez que a família, que não ousa raciocinar, ou não raciocina bem, sempre tende a acreditar na palavra de proprietários(as). 

É verdade que adictos sabem manipular, mas são meros iniciantes se comparados com os atores e atrizes que vendem a ilusão da recuperação, de adictos, às famílias fragilizadas, que acreditam em tudo quanto é mentira dessa gente inescrupulosa, exploradores da boa fé alheia e que exercem uma atividade que deveria ser levada a sério no Brasil. Bem, está começando a ser levada a sério, mas é preciso melhorar a legislação.

Os adictos, devido ao que passaram, saem fortemente revoltados esses lugares, outros traumatizados e, quando saem desses centros de terror, logo recaem, quando não saem loucos. Os que primam em manter suas identidades preservadas e livres, guarnecidas e inabaladas, engolem a própria dor.

Famosos, sempre buscam se preservar do mundo das fofocas. É justo! Nada de escandalizar... O desgaste na mídia seria inevitável e os projetos de futuro, de retomada da vida, seguindo os padrões de normalidade, poderiam ser sacrificados. O silêncio, contudo, acaba por recalcar o que deveria aflorar. Tudo é sublimado. Evitam qualquer embate de natureza jurídica e acabam não se manifestando a respeito do que vivenciaram e viram nestes locais nada prazerosos. Na verdade muitos se sentem envergonhados e preferem silenciar. Não querem comprar uma briga, quase sempre indigesta. 

Fico satisfeito em ter cumprido com um dever de cidadão ao ter denunciado um "local" que não tinha qualquer tipo de terapia, salvo a da enrolação. Muitos desejavam fazer o que fiz, mas morriam de medo.

Não vejo e nem sei mais dos companheiros torturados e aprisionados, por longos períodos de tempo, como se o tempo fosse algo determinante nestes tipos de "terapias carcerárias". 

Se prisões fossem algo bom, os presos não sairiam formados dos presídios, com mestrado e doutorado. Eu, por exemplo, acabei aprendendo a quebrar cadeados, serrar grades, fazer uma "teresa" e com esta corda feita de lençóis, consegui empreender duas fugas, correndo rico de vida. Lá dentro lia Capitães de Areia, de Jorge Amado, um incentivo para quem luta pela liberdade e contra a injustiça social. Onde estava era como um "reformatório"... Isso foi em outro local. Qual era o meu crime? Não importa mais! O fato é que estou limpo por decisão própria. Relembro conversas com pessoas que me aconselhavam e me fortaleciam.

Familiares e autoridades devem atentar para o fato de que os "donos desses carceres" são exímios na arte da manipulação e por isso devem observa-los com muita cautela. É preciso ouvir o adicto que sofre nas garras desta gente desalmada. 

O fato de ter sido desacreditado pelos mais íntimos, me faz revelar que estava certo e que a justiça foi feita. Muita gente olhava para mim, sabendo que fiz a denúncia, e escarnecia, não cria na justiça, nem em minhas verdades. Saber que a verdade dos fatos, que denunciei, não resultou inútil, que a verdade foi restaurada pelas autoridades competentes, me causa conforto na consciência. Sei que isso me recompõe e decompõe os que desacreditaram em mim, sem magoas, nem ressentimentos de minha parte.

Sei que foi muito triste o meu último dia naquele lugar. Mas não posso esquecer as armações. Posso perdoar e venho tentando esquecer determinadas lembranças, reeditando o que foi depositado no solo da minha memória.

Ninguém é santo, nem pode querer posar de bonzinho no mundo da adicção. Não espero qualquer pedido de desculpas posto que fui ensinado a sempre estar me curvando, com toda humildade, diante de quem me prejudicou, a pretexto do bem querer.

Apesar de tudo, acredito no amor. Principalmente no amor paterno, materno, fraterno, filial e cristão.  No amor a Deus, acima de tudo. À meus queridos pais, a quem devo infinitos pedidos de desculpas e de perdão, guardo minha eterna gratidão.  A eles e a uma filha devo minha decisão de deixar de usar. Não quero mais sofrer, nem mentir e não quero que mais ninguém cometa erros...

Outro motivo que me leva escrever, prende-se ao fato de ter a minha consciência apaziguada. Quando criança minha irmã mais velha me ensinou que morrer é não ser mais visto. Então, sei que morri para muita gente e a reciproca é verdadeira. Um corte lento e profundo se deu entre seres humanos que deveriam permanecer humanos, mas o destino parece irônico, em todos os aspectos da vida. Não sou determinista nem fatalista.  Mas morremos, uns para os outros, porque morrer também é ser esquecido e esquecer, quem nos esquece, também. é um pensamento doloroso, não é mesmo. Mas é real!

Saber que aquelas pobres criaturas que sofreram no cativeiro, embora não tenham sido reparadas, de diferentes maneiras, agora podem carregar dentro de si o sentimento de reparação, feita como requer o processo civilizatório. Jamais quis e sequer pensei em reparação financeira, mas a restauração da verdade.

Não vou me aprofundar, mas devo dizer que me sinto melhor em saber que a justiça tarda, mas não falha, principalmente aquela que vem de Deus. 

Para finalizar, ponho a seguir trechos, cortados, da correspondência que recebi e que só ontem tomei conhecimento, a respeito do estabelecimento prisional em que estive:

"Prezado Senhor ,,,,

Em atenção a sua denúncia, informo que a GGTES/ANVISA recebeu, em setembro de..., Ofício do Centro de Vigilância Sanitária (CVS)- Divisão Técnica de Serviços de Saúde, com novas informações referente a Clínica ... T... R... (corte) 

Conforme o documento, foi realizada inspeção no dia 10/08/..... No momento da inspeção sanitária, a equipe de vigilância sanitária do município de ...  constatou que o estabelecimento não atendia as exigências da Resolução 29/2011, sendo classificada em relação ao risco sanitário como Insatisfatória com interdição total e com Risco Sanitário Elevado. Foram aplicados os Auto de Infração e Auto de Imposição de Penalidade e Interdição Total do Estabelecimento, com determinação de remoção dos residentes, no prazo de 09 dias."

Sinto muito ter que publicar isto, mas também devo agradecer à luta dos que acreditaram em minhas palavras e foram até o final, para que a justiça se efetivasse. Parece tarefa fácil, mas não é não. É muito difícil fechar tais estabelecimentos e devo agradecer aos que combateram o bom combate, por este feito. Muito agradecido!


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