quarta-feira, 16 de abril de 2014

Uma reflexão inusitada


Foi a muito tempo atrás, quando Flavio Cavalcanti voltou a apresentar seu programa na TV que Neusinha Brizola fez uma advertência pública, da maior seriedade e que poucas autoridades devem ter dado crédito:  "No Brasil já se pode comprar heroína", disse ela.

Numa residência livre conheci uma garota, recém chegada da Austrália. Era dependente de heroína. Creio que conseguiu se recuperar. 
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Uns dois anos atrás conheci uma garota muito bonita, muito bem vestida, estilosa e chamativa. Ela havia regressado da Europa e estava em busca de heroína e, como não a encontrava, buscou uma droga substituta. Hoje, cocaína é droga de qualquer um, a heroína, não. Não encontrando a droga preferencial dela entrou na onda do crack, cuja visão social é dantesca, por conta do sensacionalismo televisivo, que emprega uma técnica de propaganda muito utilizada por Goobels, chefe de propaganda de Hitler. Ele sabia que o povo tende a generalizar situações particulares. 

Então a visão social que se tem do craqueiro,  é característica dos abandonados que vivem nos bolsões de pobreza.

Ela e outras tantas pessoas desmistificam a ideia de que todo craqueiro é igual, até mesmo no aspecto das chamadas "nóias". Mas a ideia de que todos são iguais vingou, lamentavelmente.

Tem usuários que usam o crack e não aparentam o menor sinal de qualquer paranoia. Nem se revelam violentos. A maioria, entretanto, revela-se  com suas paranoias, efeito causado pela droga e que os mais experientes dizem ser fruto de uma má viagem e de maus pensamentos, do medo que carregam...

Inexiste um histórico social de cada usuário, inclusive no que concerne a um levantamento histórico-social da vida de cada um e inexiste uma análise conjunta, multidisciplinar, que comporte aspectos pertinentes à saúde geral, não apenas mental.

Uma outra ideia que passam de modo a mistificar é a de que o craqueiro furta e rouba. Mas isso não é algo conclusivo, pois existem viciados que não cometem delito algum. Apenas causam mal à própria saúde além dos prejuízos financeiros causados. Mas cada caso é um caso.

Ninguém quer saber, exatamente, por qual motivo um usuário de drogas furta ou rouba e até chegam ao extremo de cometer homicídios, nem mostram a razão de um usuário, de qualquer outra droga, fazer o mesmo. É a droga, ou é a natureza, com seus instintos não domesticados? 

O que se supõe, é que, premido pela necessidade do uso, qualquer usuário de drogas pode ser levado ao extremo. Não é verdade. Podem até agir de tal forma devido á necessidade do uso continuado, ou por se acharem em dívida com alguém. Sem dinheiro buscam esmolar, pegam seus bens e de outras pessoas, para vender e, no último caso, dependendo da condição social e mental, podem partir para o furto, ou roubo...Mas, repito, isso não acontece com todos. Há muitas exceções.

O grande lance, que pouca gente sacou, é que entre os usuários de crack estão aquelas crianças que cheiravam cola, pelas ruas das cidades sem ninguém se importar, são os párias da sociedade, os desempregados, os desesperançados, os consumidos e alimentados por problemas, são os esfomeados, os debilitados, os que vivem como bichos humanos, catando detritos de comida nos lixos e por quem ninguém tem comiseração. São os que não tem onde cair morto e os que sobrevivem tendo que sustentar o vício com praticas comportamentais desajustadas, ou inadequadas. São mulheres açoitadas pela pobreza, que acabam vendendo o corpo para poder usar uma droga, ou para isso e, além disso, manter um cafetão.

O retrato das cracolândias é uma nódoa social que revela muito mais as debilidades e deficiências da super-estrutura econômica e social do sistema e das políticas públicas que deveriam existir nos campos habitacionais, na educação, saúde, emprego, mas inexistem na prática... Falta toda uma infra estrutura capaz de produzir bem estar a determinados meios sociais.

O governo atual, não sou um sectário, vem adotando medidas que sucessivos governos passados, não praticaram, deixando os problemas avolumarem-se. Neste aspecto, de Lula a Dilma, muita coisa vem mudando. Precisam repensar uma nova legislação que contemple o que psiquiatras humanistas clamam, vencendo o conservadorismo e preconceitos arraigados.

No âmbito familiar, infelizmente, grassa a ignorância. Famílias, quer pela intolerância, vergonha, insatisfação, desespero, medo, jogam nas ruas seus familiares doentes. Não querem ter, nem assumir responsabilidades.

Em suas cabeças, inundadas pelo terror midiático, não comporta o uso do bom senso e da inteligência. São fanáticos, por não ousarem pensar em uma saída ajustada para os problemas intestinos existentes e tomam decisões ensandecidas, que deveriam ser presididas pela sobriedade, pela serenidade e, em casos extremos, pela coragem de mudar o que pode ser mudado. Mas nada de acorrentar, prender, enclausurar. Atirar alguém no mundão é uma perversidade criminosa, uma loucura imperdoável, um absurdo inaceitável, mas a desinteligência é a marca maior que preside muitas famílias, desestruturadas e disfuncionais. Expulsar alguém, abandonar um ser humano, lançando-o na rua, é duro de aceitar. Tal medida só agrava os problemas sociais e de quem foi submetido ao trauma de ser considerado um estorvo. Pessoas que sofrem traumas desta natureza precisam que ocorra um milagre em suas vidas. Deve ser muito doloroso carregar na consciência a loucura alheia e olhar para si mesmo e sentir o imenso desgosto que lhe assume o comando de suas ações. São mortos-vivos, com feridas abertas na alma. A insensibilidade de familiares que agem de tal modo merece atenção, pois quem pratica tais ações deve enfrentar algum transtorno mental. É coisa de maluco! Na vida existe remédio para tudo e, até mesmo a morte pode ser adiada e a vida prolongada.

Voltemos as matérias no campo jornalistico. O que escondem por trás de muitas matérias, que versam sobre o uso e abuso de drogas? existem outros interesses, muitas vezes escusos. N internet existem ótimos artigos demonstrando isto. Tais matérias, que usam a técnica de propaganda subliminar nazista, preparam o povo para a aceitação de novas leis, que regridem no tempo e que impedem os avanços no campo social com melhora da sociedade; dessas matérias prolifera a indústria dos internatos, explorados por gente sem capacidade outra, que não seja a de enganar e lucrar com a miséria alheia.

Os conservadores têm uma mentalidade pavorosa e chocante, mas, com técnicas maquiavélicas maquinam suas loucuras de modo a persuadir os incautos, que pensam superficialmente e não buscam dar um mergulho vertical no conhecimento, descortinando um mundo novo, que é possível edificar.  

Então o retrato que passam para a sociedade de um drogado -  nunca falam em adicção -  é  o pior possível e não retrata a verdade como ela é...  não há verdade absoluta, mas concreta. 

Essas técnicas de propaganda reprováveis são tão terríveis que acabam persuadindo repórteres a perderem o senso reflexivo e crítico, levando-os a crer que, no plano das drogas, todos são iguais e nunca abordam as desigualdades, inclusive sociais. Continuo em outro post.

P.S.: Aqui registro meu elogio pessoal ao enfoque humano que uma novela da Globo vem dando a uma personagem que representa um médico alcoólico. 



2 comentários :

  1. ótima postagem, concordo com tudo que disse, mais sabe porque a população no geral consegue ser convencida facilmente pelas mídias, porque nesses locais se falam a mesma língua, se usa da linguagem informal pra abordar esse tema, seu texto ta ótimo perfeito, mais penso que se queremos chegar na maioria da população no geral, devemos falar a língua deles, nos termos deles, hoje alunos de 5º série não sabem interpretar um simples texto, como chegar a eles falando de forma técnica ou culta?..complicado...mais vamos que vamos...parabéns mais uma vez pelo texto concordo plenamente a cracolândia mostrada é apenas uma misera pontinha do Iceberg

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  2. Estas postagens brotam do coração e eu as escrevo desenfreadamente. Furto-me, censuro-me, mas alguma coisa escapa. Deveria seguir o seu conselho em escrever na linguagem popular, sem formalidades, como deveria escrever consoante as novas regras do jornalismo moderno. Mas quando escrevo eu disparo os dedos no teclado e quando vou ver escrevi, verifico que o texto foi longo demais. Felizmente você leu e entendeu. Gostei do seu comentário e lhe agradeço as suas palavras generosas, Não adentrei em outras questões, como a das armas... tive que cortar um trecho determinado que questionava outras tantas coisas correlatas, que só quem conhece o tema sabe o significado. Peguei leve, mas disse o que deveria dizer. Até a foto serviu como contraste enter realidade diferentes; Grato e feliz páscoa!

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