sexta-feira, 16 de maio de 2014

NEUROCIÊNCIA E DEPENDÊNCIA QUÍMICA: MECANISMOS DE AÇÃO DAS DIFERENTES DROGAS DE ABUSONEUROCIÊNCIA E DEPENDÊNCIA QUÍMICA: MECANISMOS DE AÇÃO DAS DIFERENTES DROGAS DE ABUSO



INTRODUÇÃO


O entendimento das bases neurofisiológicas da dependência química continua desafiando os pesquisadores. De acordo com estudos, o sistema dopaminérgico vem sendo considerado como o mais importante no que se refere ao uso abusivo de substâncias, sendo a via dopaminérgica mesocorticolímbica a mais referida. Juntamente com a dopamina, outros neurotransmissores em conjunto parecem colaborar para a atividade da via dopaminérgica com o chamado “sistema de recompensa”. Incluem-se à dopamina, por exemplo: o ácido gama-aminobutírico (GABA), o glutamato, a serotonina e os peptídeos opióides. Além de atuar sobre o sistema de recompensa, o sistema dopaminérgico apresenta importante função sobre o sistema motor, além de funções refinadas de cognição e memória. Já o sistema opióide é responsável pelo componente hedônico (de prazer) do sistema de recompensa cerebral além de estar relacionado também à dor e ao processamento das emoções. 

Quando observamos os mecanismos de ação das diferentes drogas de abuso verificamos que todas apresentam uma relação direta ou indireta com um ou mais destes neurotransmissores.

Mecanismos de ação das diferentes droga de abuso 


Cocaína 

A cocaína se liga aos transportadores de dopamina (DAT), serotonina (5-HTT) e noradrenalina. Entretanto, os efeitos subjetivos e comportamentais desta substância são geralmente atribuídos à sua ação sobre o sistema dopaminérgico. Acredita-se que 50% de ocupação de transportador de dopamina seja necessário para que um indivíduo perceba os efeitos da substância e que, para a sensação de euforia, pelo menos 60% dos sítios de DAT devem estar ocupados. Nas três vias de administração – aspirada, injetada e fumada (crack) - a ocupação de DAT é superior a 60% . 

A cocaína per se provoca efeitos deletérios indiscutíveis, mas quando é ingerida concomitante ao álcool, leva a formação de um metabólito conjugado chamado cocaetileno. Esse metabólito apresenta propriedades psicoativas importantes e uma meia-vida muito maior do que se a cocaína e o álcool fossem ingeridos separadamente e seu acúmulo leva rapidamente a um quadro de intoxicação.


Metanfetamina e Ecstasy (MDMA -3,4-metilenodiox,metanfetamina)

As drogas classificadas como derivados anfetamínicos podem atuar no Sistema Nervoso Central (SNC) de formas distintas. Seu alvo principal são as monoaminas cerebrais: dopamina, serotonina e noradrenalina. Assim, farmacologicamente são classificadas como agonistas indiretos pois não atuam específicamente sobre receptores monoaminérgicos pós-sinápticos mas, indiretamente da seguinte forma: 

1º ?Impedem a recaptação dos neurotransmissores através do bloqueio competitivo do transportador de dopamina e noradrenalina e em altas doses, também de serotonina;

2º Inibem a atividade das enzimas de metabolismo (monoaminoxidase - MAOA e MAOB); 

3º Estimulam a liberação do neurotransmissor independente de Ca++ (ou seja independente da despolarização do botão sináptico). 


Maconha 

O principal componente psicoativo da maconha é o ?9-tetrahidrocanabinol (THC). Seu mecanismo de ação do THC ainda não foi completamente elucidado, mas acredita-se que ele atue no SNC através de receptores canabinóides CB1 e CB2. As áreas cerebrais com maior densidade de receptores CB1 são o córtex frontal, núcleos da base, cerebelo e hipocampo. Estudos com animais têm demonstrado que o THC e a anandamida (canabinóide endógeno mais estudado), aumentam a concentração de dopamina no estriado e no sistema mesolímbico5 . 

Nicotina 

A nicotina é a principal substância do cigarro responsável pelos efeitos psicoativos e pela dependência de tabaco. No entanto, há milhares de compostos químicos na fumaça do cigarro e alguns deles podem contribuir para os efeitos comportamentais e tóxicos do tabaco. Nicotina é um agonista direto em receptores colinérgicos nicotínicos onde age acetilcolina endógena e estão amplamente distribuídos no SNC. Os receptores nicotínicos implicados na ação da Nicotina6 estão localizados no sistema dopaminérgico mesocorticolímbico. 

Álcool 

Os mecanismos pelos quais o álcool atua no cérebro assim como as alterações cerebrais produzidas pelo seu consumo crônico ainda não estão compreendidos sendo que a maioria dos estudos indica a participação dos sistemas dopaminérgicos, serotoninérgicos e principalmente gabaérgicos. 
O sistema de recompensa associado ao uso do álcool, além dos neurônios dopaminérgicos da área tegmental ventral e núcleo accumbens, inclui também estruturas que usam o ácido gama-aminobutírico (GABA) como transmissor, tais como o córtex, cerebelo, hipocampo, colículos superiores, inferiores e a amígdala. 

Opióides 

Os opióides modulam a liberação de neurotransmissores como a acetilcolina, serotonina, noradreanlina, além de outros peptídeos, como a substância P. O locus coeruleos, responsável pela maior parte da produção de noradrenalina no SNC, apresenta-se estimulado na síndrome de abstinência a opiáceos, o que provoca os típicos sintomas de estimulação simpática. 
O sistema de recompensa aos opiáceos, além das estruturas antes mencionadas inclui também áreas que usam como neurotransmissores opiáceos endógenos, tais como o núcleo arqueado, a amígdala, o locus coeruleos e a área cinzenta periaquedutal dorsal.


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